Por Felipe Ost Scherer, sócio-fundador da Innoscience
A eficácia dos programas de intraempreendedorismo depende amplamente da capacidade das empresas de gerar, selecionar e escalar ideias inovadoras. Entretanto, problemas comuns como os Funis Canudo, Espremedor e Megafone frequentemente prejudicam esse processo, limitando a criatividade, reduzindo a taxa de experimentação e dificultando o avanço das ideias para implementação prática.
Neste contexto, a Inteligência Artificial (IA) emerge como uma poderosa aliada, oferecendo soluções capazes de superar esses desafios ao otimizar a geração, análise e seleção de ideias, além de aprimorar significativamente as etapas de experimentação e rollout. Este artigo explora como as organizações podem integrar a IA em seus programas de intraempreendedorismo para potencializar resultados, fomentar uma cultura mais dinâmica de inovação e aumentar as chances de sucesso no mercado.
Funil Canudo:

No Funil Canudo, o processo de inovação é marcado por uma baixa quantidade de ideias desde o início, resultando em poucas opções para avançar pelas fases de experimentação e rollout. Esse funil se assemelha a um “deserto” no pipeline de inovação, onde poucas ideias emergem, levando a um processo de inovação pouco dinâmico e com baixa participação dos colaboradores.
A etapa de ideação é impactada pela falta de engajamento, e poucas ideias conseguem atravessar o gate para experimentação devido ao número reduzido de propostas iniciais. Essa situação frequentemente gera uma cultura de inovação estagnada, onde a criatividade e a exploração de novas oportunidades são subvalorizadas.
As causas principais do Funil Canudo geralmente estão relacionadas a fatores culturais e estruturais dentro da empresa. Uma comunicação interna ineficiente pode restringir o fluxo de informações sobre oportunidades e iniciativas de inovação, enquanto a falta de capacitação dos colaboradores para identificar e explorar novas possibilidades limita a geração de ideias.
Além disso, a liderança pode desempenhar um papel decisivo nessa patologia; quando não existe suporte da alta gestão para a inovação, os colaboradores se sentem desmotivados a participar. Incentivos inadequados ou pouco motivadores para a inovação também contribuem para que o processo de ideação seja negligenciado e, como resultado, poucas ideias ingressem no funil.
Para corrigir o Funil Canudo, é necessário atuar em várias frentes. Reforçar a comunicação interna sobre a importância da inovação, capacitar os colaboradores para que eles possam identificar e propor novas oportunidades e desenvolver um sistema de incentivos que valorize e recompense a participação no processo de ideação são algumas das estratégias possíveis.
A liderança deve promover ativamente a cultura de inovação, criando um ambiente que encoraje a exploração de novas ideias e abra espaço para a participação de todos os níveis da organização. Com essas ações, a empresa poderá aumentar o fluxo de ideias no início do funil, ampliando o pipeline de inovação e promovendo um processo mais dinâmico e participativo.
Como a IA pode ajudar: Para lidar com a baixa entrada de ideias no Funil Canudo, a Inteligência Artificial (IA) pode atuar como um catalisador para aumentar o volume e a diversidade de ideias na fase de ideação. Ferramentas de IA de geração de ideias, como as baseadas em modelos generativos, podem ajudar colaboradores a expandir seu pensamento criativo, sugerindo novas combinações ou identificando tendências que podem inspirar novas propostas. Além disso, a IA pode ser usada para realizar análises de dados internos e externos, identificando oportunidades de inovação latentes, como mudanças no comportamento dos clientes ou novas tecnologias emergentes, que os colaboradores podem explorar.
Outra forma pela qual a IA pode atenuar os problemas do Funil Canudo é melhorando a comunicação interna e o engajamento. Sistemas de IA podem ser usados para analisar a eficácia das mensagens de comunicação e propor formas de torná-las mais atrativas para os colaboradores, incentivando a participação no processo de inovação. Além disso, ferramentas de IA baseadas em recomendação podem personalizar o conteúdo sobre inovação para diferentes grupos dentro da empresa, tornando a inovação mais acessível e relevante para todos os níveis organizacionais. Ao combinar insights personalizados com incentivos mais eficazes, a IA pode contribuir para a criação de um ambiente onde todos se sintam capacitados e motivados a participar do processo de ideação.
Funil Espremedor:

O Funil Espremedor caracteriza-se por um bom fluxo de ideias na fase de ideação, mas com um filtro extremamente rigoroso no primeiro gate de avaliação. Nesse funil, muitas ideias entram, mas poucas passam para a fase de experimentação, resultando em uma alta taxa de descarte logo no início do processo de inovação.
Esse filtro excessivo reduz drasticamente o número de ideias a serem testadas em pequena escala, o que consequentemente limita as possibilidades de rollout, pois poucas iniciativas chegam à fase de escalabilidade. Como resultado, o processo de inovação torna-se excessivamente seletivo, desperdiçando o potencial criativo dos colaboradores e restringindo as opções para futuras implementações.
As causas do Funil Espremedor geralmente incluem baixa qualidade nas ideias geradas, falta de direcionamento estratégico, critérios de seleção inadequados e uma cultura organizacional com alta aversão ao risco e ao erro. Quando as ideias iniciais não estão alinhadas com as necessidades ou objetivos da empresa, a triagem no primeiro gate se torna extremamente rígida, eliminando a maioria das propostas.
Além disso, critérios de seleção pouco claros ou irreais podem levar ao descarte de ideias que, com ajustes, poderiam gerar valor. A aversão ao risco também é um fator crítico; se a empresa teme falhas, muitas ideias serão bloqueadas antes mesmo de serem testadas.
Para enfrentar os desafios do Funil Espremedor, a empresa precisa trabalhar na definição de um direcionamento claro para as ideias na fase de ideação, assegurando que as propostas iniciais estejam alinhadas aos objetivos estratégicos. Revisar os critérios de seleção para torná-los mais realistas e menos restritivos pode ajudar a aumentar a passagem de ideias para a experimentação.
Além disso, promover uma cultura de aceitação de riscos e erros pode reduzir o bloqueio excessivo no primeiro gate, permitindo que mais ideias avancem no processo de inovação e aumentando as chances de encontrar propostas viáveis para escalabilidade.
Como a IA pode ajudar: No caso do Funil Espremedor, a IA pode ser usada para melhorar a qualidade das ideias geradas e aumentar as chances de que mais propostas avancem para a fase de experimentação. Ferramentas de IA podem ser aplicadas na fase de ideação para realizar análises prévias de viabilidade e impacto das ideias, permitindo que apenas propostas com maior potencial entrem no funil. Por exemplo, algoritmos de aprendizado de máquina podem classificar ideias com base em dados históricos de projetos bem-sucedidos, ajudando a refinar o direcionamento e a qualidade das propostas iniciais. Essa triagem inteligente reduz o esforço manual dos avaliadores e aumenta a precisão na seleção de ideias com real potencial.
Além disso, a IA pode ajudar a ajustar os critérios de avaliação no primeiro gate, tornando-os mais adequados ao perfil das ideias e menos restritivos. Sistemas de IA podem analisar o histórico de decisões de gate e propor ajustes nos critérios para evitar uma seletividade excessiva. Ferramentas de IA também podem simular os riscos associados a cada ideia e calcular probabilidades de sucesso, ajudando a reduzir a aversão ao risco na empresa. Com essas simulações e análises de risco mais precisas, a empresa pode adotar uma postura menos conservadora, permitindo que um número maior de ideias passe para a fase de experimentação.
Funil Megafone:

No Funil Megafone, a fase de ideação e o primeiro gate são eficazes em gerar e selecionar ideias para experimentação, mas quase nenhuma das ideias testadas chega ao rollout. Esse formato sugere que a empresa realiza pilotos ou provas de conceito, mas sem um progresso significativo para a implementação em larga escala.
Esse tipo de funil indica que a empresa investe em experimentação, mas os resultados dos testes não são suficientes para justificar o escalonamento das ideias. Isso cria um ambiente onde os projetos parecem promissores em fase de testes, mas acabam sendo abandonados antes de atingir o mercado, resultando em desperdício de recursos e potencial frustrado.
As causas do Funil Megafone incluem a experimentação de ideias que não estão alinhadas com temas relevantes para a estratégia da empresa, testes realizados de maneira inadequada que impedem uma avaliação precisa para rollout e baixa dedicação dos times envolvidos na fase de experimentação. Quando as ideias testadas não são prioritárias para a empresa, mesmo um teste bem-sucedido dificilmente levará ao rollout.
Além disso, se a fase de experimentação não for executada com rigor ou recursos adequados, os resultados obtidos podem ser insuficientes para a tomada de decisão. A falta de dedicação ou de tempo dos times responsáveis pelos experimentos também pode prejudicar o processo, levando a testes superficiais e inconclusivos.
Para melhorar o Funil Megafone, a empresa deve garantir que as ideias selecionadas para experimentação estejam alinhadas com suas prioridades estratégicas, aumentando a relevância dos projetos. Também é importante adotar uma abordagem estruturada e rigorosa para a fase de experimentação, com critérios claros e recursos adequados para que os testes sejam conduzidos de forma eficaz.
A dedicação dos times envolvidos nos experimentos deve ser assegurada, talvez com alocação de tempo específico para esses projetos. Com essas ações, a empresa pode aumentar a chance de que projetos experimentados com sucesso avancem para a fase de rollout e tragam valor real para a organização.
Como a IA pode ajudar: No Funil Megafone, a IA pode ajudar a alinhar melhor as ideias experimentadas com as prioridades estratégicas da empresa, garantindo que apenas projetos relevantes avancem para experimentação. Ferramentas de IA de análise de dados e processamento de linguagem natural podem revisar propostas de ideias e compará-las com os objetivos estratégicos da organização, priorizando aquelas que têm maior probabilidade de contribuir para o sucesso da empresa. Com essa triagem automatizada, a IA pode garantir que os experimentos realizados estejam mais alinhados com as necessidades reais da organização, aumentando as chances de que passem para o rollout.
Além disso, a IA pode aprimorar a fase de experimentação, ajudando a conduzir testes de maneira mais estruturada e rigorosa. Ferramentas de IA podem ser usadas para monitorar e analisar o desempenho dos experimentos em tempo real, identificando rapidamente pontos fortes e fracos em cada proposta. A IA pode também fornecer insights detalhados sobre o desempenho dos protótipos e simulações em diversos cenários, ajudando os times a identificar quais projetos têm maior potencial de sucesso. Ao aumentar a precisão e a eficiência dos testes, a IA facilita uma tomada de decisão mais informada no gate de rollout, aumentando as chances de que projetos relevantes e bem-sucedidos avancem para implementação em larga escala.

