por Ana Letícia Rico – Head de Projetos de Inovação
Inovar é uma atividade de risco e quanto mais uma grande empresa consegue mitigar seu risco, melhor é. Portanto, os editais de fomento e as leis de incentivo fiscal são tão almejados e desejados por quem inova, principalmente quando o valor recebido não precisa ser devolvido independente do resultado do projeto ou quando um recurso que já seria destinado a imposto é aplicado para benefício da empresa. Estando do outro lado da mesa, tanto na academia, como em uma organização sem fins lucrativos cujo principal recurso vinha das três fontes do governo (municipal, estadual e federal) aprendi algumas lições que podem ajudar quem está buscando por funding para projetos de inovação via editais de fomento. São elas:
1. Saber quais são os editais (e influenciá-los)
A primeira lição que aprendi é que você deve se conectar com os órgãos que escrevem os editais, eles sempre buscam auxílio para escrever os requisitos. Uma vez que você tenha esse networking você pode tanto influenciar os critérios de seleção como ter acesso a informações em primeira mão que vão ajudar a se preparar para a submissão dos documentos que vem sempre com um prazo muito curto.
2. Se aliar com as áreas de apoio
Um dos grandes desafios dos editais é reunir uma tonelada de documentos em um prazo justíssimo. Quando você possui aliados nas áreas como compras/suprimentos, jurídico e financeiro, isso se torna um processo muito mais fácil. Outra dica nesse ponto é que os documentos costumam se repetir, então vale ter uma pasta com todos aqueles documentos sempre atualizados.
3. Ter sponsors mapeados para os projetos (e uma equipe técnica)
Capturar dores e oportunidades com as áreas de negócio e ter potenciais sponsors mapeados é um dos pontos chave aqui. Em um programa de inovação aberta normalmente esse mapeamento pode demorar de 1 mês e meio a mais de 1 ano dependendo da abertura das áreas e de cultura de inovação estabelecida. Dado prazo de submissão, saber o que pode ser objeto do edital é essencial.
A submissão dos projetos geralmente exige também uma equipe técnica, que pode ser interna da empresa ou necessitar de parceria com universidades ou startups. Ter os potenciais parceiros mapeados é outra vantagem! As universidades estão cada vez mais abertas dada a diminuição dos recursos diretos para pesquisa acadêmica do governo (como por exemplo as bolsas de mestrado e doutorado). Startups fundadas por mestres e doutores podem ser grandes parceiros também.
4. Eleger o melhor profissional para escrever (ou treinar um)
Esse tipo de edital necessita um tipo de escrita diferenciada. Na época da academia, não era raro um mesmo profissional conseguir recursos de diversos editais, porque “se aprende” a escrever projeto para edital. Caso a sua empresa não tenha essa competência desenvolvida dentre os profissionais, vale buscar uma referência no mercado e treinar essa habilidade.
5. Identificar fontes de recursos extras
Uma lição importante para quem vai pleitear esse tipo de recurso é que nem sempre tudo é perfeito, na realidade, na maioria das vezes não é. Alguns editais cobrem só equipamento, outros só mão-de-obra e, outros ainda, exigem uma contrapartida, isso significa que a sua empresa vai precisar destinar uma quantia de recursos financeiros para o que receber de aporte. Existem editais ainda que parte dos recursos são econômicos, ou seja, editais como Embrapii ou Senai, parte do que a empresa recebe é em serviços (geralmente hora dos profissionais ou uso de equipamentos).
6. Consolidar os dados para report com frequência
Os reports para esse tipo de projeto geralmente são semestrais, ter tudo mapeado com frequência auxilia a escrevê-los no prazo e na qualidade necessária e, acredite, os reports são tão importantes quanto a submissão. Tanto para evitar divergências financeiras (e todos os problemas que isso pode causar, existem matérias sobre problemas desse tipo de problema que aconteceram em alguns editais do governo caso você se interesse pelo assunto), como para manter uma reputação e conquistar outros editais.
Bonus I – Ter parceiros estabelecidos
Alguns editais necessitam que o aporte seja feito em uma empresa sem fins lucrativos. Ter parceiros estabelecidos como hubs de inovação com esse tipo de constituição jurídica pode acelerar a obtenção dos recursos e, até mesmo, ser decisivo para receber os recursos.
Bonus II – Se atentar aos prazos do financiamento
Existem editais que tradicionalmente demoram meses para liberar os recursos, os prazos dos editais são geralmente bem diferentes dos prazos de grandes empresas e, mais ainda, de startups. Ter contato com quem já recebeu aquele tipo de recurso pode ajudar a se planejar e, evitar por exemplo, contratar um profissional muito antes do recebimento do recurso.
Exemplos de onde encontrar editais de fomento
Se a sua empresa ainda não utiliza editais de fomento ou quer expandir a utilização, você deve estar pensando onde poderá encontrá-los. Editais de fomento são geralmente lançados por Empresas Públicas como a Finep (Empresa Pública do MCTI), Organizações Sociais qualificadas pelo Poder Público Federal como a EMBRAPII (Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), Serviços Sociais Autônomos como Senai, Sebrae, Sesi e ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), e ainda existem editais abertos por Lei, como a Rota 2030 (Lei 13.755/18), um programa federal destinado à cadeia automotiva. Caso a sua empresa tenha interesse em editais internacionais, recomendo procurar a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
Considerações finais
Inovar é sobretudo sobre pessoas, com pessoas e para pessoas e, por sua vez, quando falamos de pessoas, estamos falando de desejos e necessidades individuais. Dificilmente as pessoas vão se dedicar de forma comprometida naquilo que não está nas suas metas. Portanto, alinhar os interesses individuais é uma das maiores vantagens em se ter sucesso, não só na obtenção de recursos e não apenas no curso prazo, mas em qualquer projeto de inovação e de forma sustentável e duradoura.