Edição do Corp2Corp debate os desafios de empresas estabelecidas para criar novos negócios
Um espaço para falar sobre inovação corporativa e boas práticas, anseios e experiências: assim é o Corp2Corp, um bate-papo sem espuma sobre inovação aberta exclusivo para clientes Innoscience.
Em sua segunda edição, que teve o tema “Startups corporativas: mitos e verdades do corporate venture building” a rodada de conversas foi conduzida por Maximiliano Carlomagno, sócio-fundador da Innoscience; juntamente com Bruno Stefani, diretor global de inovação da AB Inbev, e contou com a participação de vários clientes da Innoscience, trazendo suas vivências sobre inovação.
Afinal de contas, o que é uma startup corporativa?
Para Maximiliano, uma startup corporativa é um novo negócio dentro de uma empresa incumbente. “Exemplos disso são a Nespresso, AWS, Zé Delivery, Cashme. É possível sim escalar novos negócios dentro de empresas incumbentes”, reforça Maximiliano.
Cerca de 55% das companhias entendem que o desenvolvimento de novos negócios é uma das três prioridades estratégicas. De acordo com Maximiliano, essa demanda tem crescido muito nos últimos anos, e existem estatísticas indicando que metade da receita das empresas virá de novos produtos e novos negócios. “Não estamos falando apenas das inovações para reforçar o core, mas também em inovações visando novos negócios”, destaca.
3 razões que mobilizam os incumbentes para a jornada
Maximiliano listou as três principais razões para que incumbentes trilhem essa jornada rumo a startups corporativas. A primeira é para se manterem no topo, já que 80% das empresas da Fortune 500 desaparecem em apenas 20 anos. A segunda diz respeito a geração de novas receitas: 24% dos executivos afirmam que o desenvolvimento de novos negócios é a principal fonte de receita para os próximos cinco anos. A terceira razão está relacionada a retenção de novos talentos – mais da metade dos profissionais que estão empregados têm ambição de empreender e admitem a possibilidade de desligamento do atual trabalho.
Como se faz isso dentro das empresas?
Um dos caminhos possíveis é o Corporate Venturing. “É uma atividade das empresas estabelecidas de, sistematicamente, criarem novos negócios, aproveitando a capacidade que a empresa já tem, porém em outros contextos, acessando outras capacidades de negócios no mercado em áreas que a empresa não atende”, explica Maximiliano.
CVE, CVI e CVB
O Corporate Venturing possui três modelos complementares de validação: o Corporate Venture Externo (CVE), ou seja, alguém no mercado precisa se predispor a pagar por uma nova ideia. A segunda validação é o Corporate Venture Interno (CVI), em que há necessidade de validação junto à cúpula de gestão da empresa e as unidades de negócio. “É o momento de avaliar a parceria da empresa mãe para desenvolver o novo negócio. Sem essa parceria, a startup fica órfã dos ativos que ela tem para jogar a partida. Ela precisa de parceria, mas precisa de autonomia”, destaca Maximiliano. Já o Corporate Venture Building (CVB), é a combinação do externo com o interno, unindo times, relações potencialmente societárias com agentes internos e externos, com foco na aceleração desse novo negócio.
Os 3 porquês de Bruno Stefani
Bruno Stefani, diretor global de inovação da AB Inbev, em sua fala inicial, fez um questionamento sobre o case do Nubank. “Não sei se todos concordam comigo, mas acredito que daqui a 10, 20 anos, vamos olhar para o tempo que vivemos nos últimos 30 anos e falar que no Brasil, em 2013, chegou um colombiano, viu um problema, construiu uma solução que virou o maior banco da América Latina e que esse banco não saiu do Santander, Itaú ou Bradesco. Isso para mim é uma disfunção do sistema, o fato de não ter saído de uma grande empresa é muito estranho”, destaca.
Para Bruno, as grandes corporações possuem recursos infinitos, experiência de décadas nos seus setores, porém não conseguem reinventar o seu negócio. “Estudando muito e analisando o que vemos na teoria para entender o porquê disso acontecer, cheguei em três respostas possíveis. Um excesso gigante, uma falta e um ataque”, diz.
Excesso de Governança
Bruno ressalta que grandes corporações têm excesso de governança, sendo que dificilmente se consegue aprovar algo muito diferente, que não tenha um modelo de negócio provável. “Na verdade, tudo é um teste, pois se soubéssemos o que estamos fazendo não seria inovação”, frisa.
Falta de Estratégia
A segunda questão diz respeito a falta de estratégia de inovação contínua. “Investimos muito pouco em inovação no Brasil. Pesquisas apontam que Google e Amazon investem sozinhos em inovação mais que o Brasil inteiro. Colocamos mais dinheiro em campanhas de marketing do que em inovação, o que não está errado, mas sim desproporcional”, salienta.
Ataque de margem
O terceiro fator é o ataque de margem. “Quando falo do Nubank, falo de uma nova empresa que ataque as margens de um Itaú, de um Bradesco. O executivo do Itaú, por exemplo, desaprova um ataque às margens do banco, o que significa que o bônus dele vai ser menor, com margens menores as receitas serão menores. É um conflito de interesses gigante”, afirma.
AB Inbev e o pensamento fora da caixa
Nos últimos oito anos, a AB Inbev colocou três grandes negócios na rua. “Em 2013 quando tivemos a ideia do BEES, estávamos falando que o vendedor, uma instituição sagrada na Ambev que à época era a alma da companhia, passaria a concorrer com o crescimento das vendas no digital. Ou seja, falar isso naquela época era quase uma ofensa. Ouso dizer que a pessoa que teve essa ideia teve medo de ser demitida”, ressalta.
Falar do Zé Delivery é a mesma coisa. Em 2015 quando foi lançado, a empresa tinha se preparado por anos para atender bares, restaurantes e supermercados. “A ideia do Zé Delivery era justamente o contrário: tirar as pessoas dos bares, dos restaurantes, dos supermercados e servi-las em casa, pois é isso que elas preferem. É uma conversa difícil de ser feita dentro da companhia”, observa.
Em 2018, falar de meios de pagamento, que é o caso do BEES Bank, e fazer outros negócios além de vender cerveja era como se desviássemos o foco da empresa. “Precisamos entrar em um modo, como grande empresa, de que a nossa opinião como executivo pouco importa. A nossa visão de mundo, a maneira como enxergamos as coisas e nossas referências são insignificantes para a construção de novos negócios. O que importa, de verdade, é o cliente no centro de tudo”, afirma.
A transição importa?
Para Bruno, não existe um modelo certo de negócio, cada um tem seus desafios e particularidades. Mas no caso do Zé Delivery, o time que participou da fundação, da ideia inicial, esteva à frente da empresa até ano passado. “Estamos falando de sete anos, sete anos as mesmas pessoas tocando o negócio. Isso, para uma empresa tradicional, manter um negócio diferente por muito tempo, é raríssimo”, conta Bruno.
Inovação em empresas tradicionais
De acordo com um dos participantes, atuante em empresa bastante tradicional do ramo do agronegócio, a jornada de inovação foi difícil. No início era mais uma inovação incremental, com foco em melhorar os serviços e processos já existentes na empresa. Atualmente, a companhia investe em inovação disruptiva, estreitando a relação com startups e se reinventando dentro do seu setor.
A dificuldade de encontrar founders
Um dos participantes, do ramo de energia, conta que uma das dores da empresa são os founders. A dificuldade da companhia é de ser atrativa para o founder e ter a capacidade de trazer pessoas com perfis e competências necessárias. Para Bruno, é preciso escolher o founder dentro da própria equipe da empresa – e saber identificar os perfis empreendedores dentro da companhia.
O presente e o futuro são da inovação
Inovar dentro de empresas já estabelecidas é um desafio e tanto. Há diversos empecilhos: aprovação da gestão, time, estrutura, investimento.
Mas como se manter em um mercado em constante mudança? Sem investimentos em inovação, dificilmente as empresas permanecerão em operação. Pensando nesse cenário, as startups corporativas são excelentes alternativas: é um novo negócio dentro de uma empresa incumbente, aproveitando todo o conhecimento, expertise, time e a própria estrutura da empresa.
Tudo no mercado é muito incerto, mas a certeza é de que sem inovação não há possibilidade de crescimento exponencial.
Quer saber mais sobre inovação e seus desafios? Acompanhe nossos conteúdos no blog. E se você é cliente Innoscience, em breve divulgaremos a agenda do próximo Corp2Corp.