O Design Sprint, metodologia ágil desenvolvida pela Google Ventures em 2012, tem como objetivo ajudar empresas a direcionarem e progredirem com seus projetos inovadores de uma maneira rápida e, como o próprio nome diz, ágil. O principal output é um progresso rápido e a validação de pontos cruciais para um entendimento da direção à que o projeto deve caminhar para alcançar o sucesso.
Ao final do Design Sprint, você terá três possíveis caminhos a seguir, dependendo do resultado alcançado com os testes realizados. Nosso principal objetivo nesse texto é te ajudar a compreender quais são esses possíveis próximos passos e saber como escolher aquele que permita direcionar investimento financeiro e os esforços de sua equipe para potencializar os resultados do projeto.
Apliquei a metodologia, e agora?
Após cinco dias imersivos, partindo de um problema e finalizando com um teste na busca por resultados pertinentes para o direcionamento do projeto, os principais tomadores de decisão precisam avaliar os resultados obtidos e direcionar o caminho ao qual o projeto deve prosseguir para dar mais um passo ao seu sucesso.
Este momento é crítico em qualquer projeto e é nesta situação que essa metodologia ágil apresenta sua principal proposta de valor: rápida validação com usuário. Normalmente, as equipes consolidam um business plan com dados de tendências de consumo, informações sobre o mercado, novas tecnologias, e estruturam um projeto detalhando como será a solução ideal e como acreditam que ela performará após seu lançamento. Esse tipo de abordagem esquece da principal validação para entender se a solução traz valor ou não para o usuário: um teste com o mesmo para compreender seu comportamento e se ele enxerga valor no que está sendo proposto.
O maior ganho do Design Sprint é colocar o usuário no centro do processo, tendo, em cinco dias, sua equipe capaz de construir um protótipo e colher aprendizados relevantes para fundamentar, com maior clareza, como dar o próximo passo para sua solução ser escalada no mercado. Trazemos aqui três caminhos como alternativas para que sua equipe possa direcionar o projeto para melhor performance: estender o experimento, pivotar ou escalar a solução.
Estender o experimento
O principal papel do Design Sprint é o rápido teste com o usuário. A metodologia define um período imersivo de cinco dias para o time aprofundar o conhecimento no problema e sair com aprendizados importantes do protótipo testado. Os ganhos utilizando essa metodologia são imensos; todavia, é necessário entender sua limitação devido ao escopo de trabalho no protótipo e ao curto período de teste. Se o seu projeto ainda está em um estágio inicial e apresentou resultados relevantes nas principais hipóteses levantadas para o teste, não é hora de definir que seu projeto está pronto para escala no mercado. O próximo passo que trará uma gama maior de aprendizado e informações para o desenvolvimento do projeto é ajustar algumas funcionalidades do protótipo e aumentar o escopo do teste.
Estender o experimento pode ser em diferentes variáveis, como na cobertura e no número de clientes, no tempo de testagem, em novas formas e estruturas de teste, entre outras possibilidades. O importante aqui é assegurar um resultado fidedigno ao objetivo proposto, aumentando a escala desse teste para ter uma maior representatividade no seu resultado, lembrando que, ao final, uma nova análise dos resultados deve ser feita para entender qual o novo direcionamento que o projeto deve seguir.
Um caso que ilustra esse caminho é do Sprint que fizemos com uma fabricante de bebidas. O objetivo era melhorar a experiência do consumidor no ponto de vendas, revisando as ações de trade marketing e execução, e a principal hipótese era que um promotor 100% dedicado manteria o ponto de vendas mais organizado e com os produtos na gôndola todo o tempo, evitando ruptura. Nesse sentido, realizou-se um teste A/B com dois locais no mesmo período, um com um promotor compartilhado e outro com um promotor dedicado, e os resultados do Sprint confirmaram algumas das principais hipóteses. Foi definido estender o período de teste e aumentar o escopo para a companhia continuar aprendendo com novas hipóteses e variáveis como seria o comportamento desses promotores, sem deixar de validar também com o usuário final pontos relevantes da solução.
Pivotar
Antes de vocês analisarem se esse caminho é interessante para o seu projeto, é importante esclarecer o que é “pivotar” um projeto. Talvez alguns já estejam tensos só por terem lido essa palavra, mas não há necessidade. A palavra deriva do inglês “to pivot”, que significa “girar” e é associada à função de pivô no basquete, que, ao girar o pé de apoio sem tirá-lo do chão, consegue identificar todas as possibilidades da próxima jogada e tomar a melhor decisão para permitir o time pontuar na jogada.
Pivotar um projeto consiste em entender que as principais hipóteses do projeto não apresentaram os resultados esperados para serem validadas e é necessário observar todas as possibilidades e redirecionar o projeto, por exemplo alterando o usuário final da solução. Muito importante destacar que pivotar não é uma desistência do projeto, mas uma mudança drástica que será feita aproveitando todos os aprendizados e desenvolvimentos já realizados. Um dos principais valores de qualquer metodologia ágil é permitir falhar rápido, diminuindo grande perda de tempo e de recursos da empresa.
Um case que pode ajudar a elucidar esse caminho é de uma gigante farmacêutica que tinha interesse em lançar uma nova solução educacional para seus usuários finais e estruturou um Sprint para validar se o conteúdo e o canal de relacionamento que estavam considerando traziam valor ao cliente. Para tal objetivo, foi prototipado um site responsivo com diversos conteúdos relevantes (pela equipe) e alguns planos para o usuário selecionar se tinha interesse em pagar por aquelas informações. Os resultados colhidos demonstraram que poucos daqueles assuntos eram, de fato, relevantes para aquelas pessoas, e o canal não era o mais adequado, pois não facilitava o acesso às informações e não permitia algo que percebemos só após todos os testes: comunicação com o usuário. O caminho foi pivotar e estruturar um novo teste com um canal mais acessível e com funcionalidade capaz de permitir uma comunicação mais personalizada e próxima do cliente. Para tal objetivo, foi programado um teste utilizando o aplicativo WhatsApp.
Escalar solução
O principal objetivo de todo novo projeto que aborda uma nova solução é essa nova solução ir para o mercado e ter resultados positivos. Como pontuamos ao longo de todo o texto, o Sprint auxilia os projetos a darem passos importantes para se chegar nesse momento. Podem, então, os resultados do teste no sprint permitir o próximo passo ser a solução ser escalada no mercado? A resposta é sim! No entanto, é apenas em um contexto bem específico que isso ocorre.
Quando se tem um projeto que já passou por diversos períodos de validação, está com um prazo apertado para um lançamento ou execução em uma escala maior e a equipe precisa tomar algumas decisões chaves para finalizar a solução final, o Sprint permite esse gás final para alinhar os últimos detalhes antes do lançamento. Sendo assim, o foco pós-sprint passa a ser na estruturação do projeto em escala da solução com os refinamentos aprendidos no Sprint. O próximo passo prioriza o detalhamento de um plano de ação para a implementação da solução com definição de indicadores, prazos, cronograma, responsáveis, assim como os resultados esperados com essa nova solução da companhia.
Um caso que exemplifica esse caminho é o citado no livro “Sprint” de Jake Knapp, em que uma empresa tinha desenvolvido um robô para ser assistente em atividades cotidianas dos seres humanos e fechou um contrato com uma rede de hotéis para o robô suportar o atendimento de pedidos de hóspedes. A equipe contava com algumas semanas para entregar o robô ao cliente, mas ainda havia dúvidas de como seria a reação dos hóspedes em algumas interações com o robô. Para isso, utilizaram o Sprint e realizaram testes significativos com poucos hóspedes, validando suas principais hipóteses de modo a apontar os ajustes finais após os testes para a entrega de um robô que não iria “assustar” os hóspedes, mas sim entregar um serviço mais eficiente e rápido.
Nenhuma metodologia ou ferramenta te entregará uma solução pronta, mas pode te ajudar a direcionar seu projeto para um caminho em que o ganho será maior. Não existe trampolim em um processo de validação com o cliente em projetos inovadores, uma vez que o contexto é incerto e tudo é novidade para o cliente. Por isso, é fundamental compreender o porquê de cada passo dado em um projeto dessa natureza e o Design Sprint permite sua equipe ter um aprofundamento do problema, entender o principal objetivo e realizar testes com os usuários reais para validar hipóteses, que muitas vezes atribuímos como verdades dentro de um projeto.
Após conhecer esses possíveis próximos passos, esperamos que seus projetos de Sprint sempre caminhem rumo ao sucesso e nós estamos aqui para te apoiar no que for preciso!
Se você ainda tem alguma dúvida sobre quais são as situações indicadas para o Design Sprint, seus benefícios e como se preparar para uma semana de Sprint, acesse nosso outro artigo explicando em detalhes: https://innoscience.com.br/como-se-preparar-para-executar-o-design-sprint/
Por Julia Mariné e Mariana Santana, consultoras da Innoscience