Falando de intraempreendedorismo, o conhecido Eric Favre desenhou a solução da Nespresso como uma ruptura em relação ao modelo de negócio vigente na Nestlé em 1976. Então, em função disso, enfrentou naturais resistências do core que priorizava a venda do Nescafé, um produto menos premium e comercializado em outro canal de distribuição já dominado pela empresa. Portanto, ao invés de inovar para reforçar a estratégia vigente, Eric tentou inovar a estratégia, criando um novo modelo de negócios.
Intraempreendedores precisam compreender quais os problemas relevantes da organização para a qual trabalham a fim de desenvolverem ideias que tem maior potencial de adoção. Esses limites de inovação nem sempre são claramente definidos. Favre lidou com desafios mesmo propondo um negócio de café para uma empresa líder em café. Mas o sistema de trabalho de uma empresa estabelecida é bem mais complexo do que imaginamos. Assim, uma série de mecanismos de reforço de comportamento como avaliação de desempenho, remuneração, bônus, planejamento, orçamento e estrutura organizacional definem o que é interessante e o que não é. Eric não submeteu a ideia da Nespresso para um programa de inovação disponível na empresa. Ele trabalhou “hackeando” o sistema. Investiu tempo para a fase de entendimento do problema, indo atrás de insights de forma intuitiva. E assim buscou aliados quase ao acaso.
Mas nem sempre precisa ser dessa forma. Há empresas com estratégias de inovação deliberadas e programas disponíveis para catapultar os intraempreendedores. Cabe a você compreender a realidade da sua empresa e desenhar a melhor abordagem.
Análise de case real de intraempreendedorismo
Deixe-me compartilhar um caso real de intraempreendedorismo. Vou trocar os nomes do profissional e da empresa para manter a confidencialidade dos mesmos.
Tempos atrás, trabalhamos com uma indústria fabricante de calçados. A empresa tinha um programa de inovação para os funcionários da fábrica. Convidou os funcionários para apresentarem alternativas de redução de custos para a perda de matéria prima na produção. Atente para esse detalhe. O negócio era fabricação e comercialização de calçados. O foco era redução de custos.
No entanto, a Adriana, que trabalhava na área de marketing era uma usuária intensa de smartphone. Sabia tudo do tema. Percebia todas necessidades dos usuários desse produto. E lembrou que uma parte dos produtos da empresa de calçados era feita de um material que poderia ser usado para outras aplicações. O inovador corporativo é um conector de ideias e contextos. Da vida pessoal e profissional. As coisas não se separam hermeticamente. Adriana aceitou o desafio e propôs no programa de inovação o desenvolvimento dessas capinhas para celular. Um produto que tem alta demanda. E também incrível concorrência. Adriana estava, na prática, propondo uma alteração do escopo de produto e segmento alvo da empresa, algo fora do mandato dos responsáveis pelo programa na fábrica. Acabou tendo sua ideia rejeitada por desalinhamento estratégico.
Se você está interessado em fazer diferente e ser um intraempreendedor vale a pena atentar para os seguintes pontos:
Domine a estratégia da empresa e quais as prioridades de inovação
Toda empresa tem uma estratégia, informalmente ou no papel. A própria ausência de uma é um tipo de estratégia. Não importa se está expressa em forma de missão, propósito, OKR’s, usando o balamced scorecard ou o business model canvas. Você precisa entender quais são as prioridades. O que tem atenção da alta gestão. Pois é isso que terá maior facilidade de obter recursos. Fazer algo que a empresa quer já é difícil mas tentar fazer o que ela não quer, mesmo que necessite, é ainda mais.
Identifique estruturas, programas e iniciativas internas de suporte a inovação
Nem todas empresas tem uma área de inovação. Mas cresce o número de empresas que tem alguma estrutura responsável pelo tema ainda que sob diferentes nomenclaturas ou formatações. Um cliente nosso do setor de serviços financeiros tem uma aceleradora interna de projetos digitais que na prática cuida das inovações do negócio existente. Outro, do setor farmacêutico, tem um comitê de inovação. Sua vida no intraempreendedorismo poderá ser potencializada se você conseguir mapear essas estruturas, se aproximar delas, compreender o funcionamento do processo e adaptar sua ideia as prioridades existentes.
Entenda o que está ao seu alcance e o que não
Os intraempreendedores estão em todas as áreas. Mas nem todas as áreas da empresas estão ao seu alcance. Se você trabalha na manufatura de uma empresa de bens de consumo, a sua influencia para alterar processos comerciais tende a ser menor do que para inovar o processo de produção. Começar inovando na sua própria área naquilo que está no seu campo de decisão pode ser uma boa alternativa.
Avalie sua predisposição e probabilidade de conseguir alterar a estratégia
Uma empresa que apresenta bom desempenho financeiro, lida com baixa concorrência e tem uma ambição moderada será menos propensa a inovar do que quem tem uma gestão visionária, percebe as ameaças e começa a sentir os efetivos dessa concorrência. Cabe então, a você decidir se quer enfrentar o sistema ou inovar dentro dele.
O caso de intraempreendedorismo de Eric Favre
Leia também > Nespresso: a jornada do intraempreendedor Eric Favre
O Eric Favre tentou e conseguiu fazer a Nestlé investir num novo modelo de negócios. A Adriana, da fabricante de calçados, não conseguiu fazer a empresa apostar em um novo produto. A decisão sobre o que motiva você a ir além é, obviamente, sua. Porém a decisão sobre a estratégia da empresa nem sempre é. Entender a estratégia, os mecanismos de suporte a inovação existentes e qual seu alcance, podem ajuda-lo a definir se vale a pena ou não fazer como o Eric e a Adriana ou se começar pequeno, dentro da sua própria área pode ser uma alternativa mais adequada. O intraempreendedor que consegue entender esse jogo tem mais chances de inovar.
Por fim, devemos dizer que a sua jornada já começou. O próximo passo é formar o time e juntar seus aliados. Ninguém faz nada sozinho.
Bora tirar a sua ideia do papel? No próximo artigo vamos te contar em detalhes qual deve ser o seu próximo passo.
Autor do artigo: Maximiliano Carlomagno