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Novos Modelos que Potencializam o Relacionamento com Startups nas Corporações

Os programas de inovação aberta e corporate venture tomaram conta do ambiente de negócios brasileiro. Empresas como Nestlé, Coca-Cola, Hypera Pharma, Roche, GSK, Sicredi, Klabin, M. Dias Branco, Tegma, SLC Agrícola, Ocyan, Ingredion são apenas algumas das que vivenciaram essa jornada de conexão com startups. Em todo o ecossistema brasileiro, são centenas de empresas estabelecidas com iniciativas desse tipo, ainda que o fenômeno não seja novo.

A primeira onda de corporate e startup engagement no Brasil, em nossa avaliação, foi no final dos anos noventa no boom inicial da internet brasileira. Nessa época, surgiram empresas como Zaz (posteriormente virou o Terra), ZipNet, Booknet (virou Submarino), IG, Investshop, Patagon e outros. Um case que um de nós vivenciou nessa primeira onda foi a parceria de uma instituição financeira com o portal líder de mercado imobiliário da época, o Planeta Imóvel, atual Zap. A primeira queria distribuir produtos financeiros imobiliários no ambiente digital e propôs um acordo de cooperação comercial para colocar os simuladores de financiamento imobiliário, uma inovação naquele momento, junto ao resultado da pesquisa de interessados por imóveis que acessavam o portal.

Mais recentemente vivenciamos a segunda e mais significativa onda deste relacionamento entre corporates e startups. Os programas dessa onda de inovação aberta apresentaram três características fundamentais:

  1. Formatos de aceleração com capacitação e mentoria;
  2. Aporte de capital em troca de opção de conversão em participação das startups;
  3. Modelo de batch como estrutura preferida para essa interação – programa estruturado com início, meio e fim, em que a empresa se conecta simultaneamente com diversas startups para solucionar alguns de seus desafios de negócio;

O amadurecimento do ecossistema e a entrada de novas empresas abriram espaço para novos formatos e modelos. A onda mais recente se concentra em gerar negócios para as startups, além de eficiência e competitividade para as empresas. Ademais, à medida que as empresas fortalecem suas capacidades de se relacionar com o ecossistema, não apenas o formato se diversifica, mas também os modelos de conexão.

 

Os 3 modelos de conexão com startups

O modelo dominante de batch ainda apresenta pontos fortes muito significativos. No entanto, em determinadas situações, as empresas precisam de modelos complementares. Identificamos 3 modelos de conexão que se adequam perfeitamente aos formatos de contratação e parceria para gerar negócios. Apresentamos uma visão sintética de como esses modelos funcionam. Vamos a eles:

 

Batch: foco e entregáveis concretos

DESCRIÇÃO: programa aberto com chamada pública, início, meio e fim com um conjunto de desafios priorizados para uma turma de startups selecionadas, avaliadas e pilotadas em grupo.

DESAFIOS: conjunto de 5 a 8 desafios conduzidos conjuntamente.

GESTÃO: centralizada e corporativa em uma área como inovação, digital e novos negócios, que atende outras áreas da empresa como clientes.

 

Contínuo: abrangência, autonomia e escala

DESCRIÇÃO: conexão contínua com ou sem chamada pública para um conjunto de desafios autônomos e assíncronos ao longo do ano para diferentes áreas da empresa.

DESAFIOS: ilimitados e executados separadamente.

GESTÃO: distribuída entre as áreas internas.

 

On Demand: flexibilidade para soluções pontuais

DESCRIÇÃO: busca ativa de startups sob demanda para um determinado desafio sem chamada pública ou comunicação.

DESAFIOS: um desafio por vez.

GESTÃO: autônoma de cada área interessada.

 

Não existe uma única forma de inovar. Nem mesmo de se conectar com startups. Os modelos acima apresentados podem endereçar formas de trabalho específicas para determinadas realidades. Esses modelos apresentam vantagens e desvantagens. Mas qual o modelo mais adequado para cada situação?

 

Modelos e contextos de aplicação

A seleção do modelo adequado que permitirá à empresa potencializar seu relacionamento com as startups é definido a partir da intersecção de três premissas principais: a) qual grau de maturidade sua empresa apresenta no relacionamento com startup; b) qual a abrangência da iniciativa para execução do desafio de interesse da corporação; e c) qual a disponibilidade de investimento para execução da iniciativa.

Estruturamos a seguinte matriz para demonstrar como a intersecção das três premissas principais condiciona o modelo adequado para cada realidade:

 

Matriz de Modelos de Conexão com Startups

Se sua corporação busca uma solução pontual para determinada área e não há muita disponibilidade de investimento, o modelo que trará maior eficácia no uso de seus recursos e competências é o On Demand, pois os principais objetivos deste modelo são trazer flexibilidade de cronograma, agilidade para contratação de soluções pontuais e maior autonomia para a área demandante da empresa. Um caso que ilustra esse modelo é de uma importante empresa varejista de materiais de construção com quem trabalhamos na busca startups para um desafio específico e urgente de sua área de Recursos Humanos, sem realizar chamada pública nem envolver outras áreas de sua companhia, dado que era uma demanda específica e pontual.

Por outro lado, se sua empresa busca um conjunto de desafios que impactará em diversas áreas – ou até na empresa inteira – e dispõe de um montante de investimento, é preciso definir seu grau de maturidade no relacionamento com startups para discernir qual será aquele modelo que trará maior desempenho para sua companhia. No caso de sua corporação já ter realizado pilotos com algumas startups ou ter contatos esporádicos com startups em eventos e pitch days, o modelo adequado para sua estratégia é o Batch, pois permitirá a estruturação de um conjunto de desafios para a companhia com um grau de centralização e organização de cronograma, processos e recursos humanos/financeiros que permitirão gerenciar o resultado do programa como um todo. Além disso, fará com que você diversifique suas apostas não as centralizando num projeto específico sem ter a maturidade necessária para gerenciar os riscos e complexidades de projetos pilotos com startups.

O modelo de Batch, por seguir um cronograma único, viabiliza o envolvimento e amadurecimento de diversos stakeholders internos no relacionamento com startups, como o envolvimento das áreas de apoio sensibilizadas no início do ciclo e organizadas para aprovar os trâmites burocráticos dos pilotos com o tempo hábil que o ciclo necessita. Para esse modelo, há inúmeros exemplos de corporações que o adotam para iniciar uma transformação digital centralizada e organizada com envolvimento de startups. Um exemplo de grande sucesso foi de uma companhia do setor de óleo e gás nossa cliente que, em seu primeiro ciclo, aprovou 75% dos pilotos com startups para roll-out e impactou positivamente diversas áreas de seu negócio.

No entanto, se sua empresa já está habituada a executar diversos pilotos, implementou roll-outs desses projetos e suas áreas de apoio e de negócios compreendem as especificidades de estruturação e execução de projetos inovadores com startups, o modelo Contínuo oferece uma escala e uma autonomia em sua companhia que fará seu portfólio de projetos ter ganhos estratégicos e financeiros interessantes. Essa condição de alcance de resultados em relação aos outros modelos só é factível devido ao alto grau de maturidade no relacionamento com startups que a empresa alcançou após executar inúmeros pilotos, envolver distintas áreas de negócios e de apoio e aperfeiçoar os processos internos da empresa capazes de suportar uma articulação de um número elevado de projetos com startups, sem demandar uma centralização e organização de calendário único ou necessidade de envolvimento pontual das áreas de apoio.

Vale destacar a atuação de uma instituição financeira que, após estruturar ciclos de contratação com startups para diferentes áreas de negócios, resolveu descentralizar o modelo e, hoje, as áreas demandantes dos desafios são autônomas e integram o portfólio de projetos de inovação aberta, sem necessitar seguir um cronograma estipulado pela companhia.

 

A aplicação conjunta dos modelos

Os modelos Batch e Contínuo podem ser conciliados com o On Demand, caso alguma área tenha uma demanda pontual e urgente e necessite de apoio na resolução do desafio. Recentemente uma grande corporação do setor agrícola, que estrutura sua iniciativa de inovação aberta no modelo batch, necessitou realizar uma busca pontual de desafio para uma área de negócio que não estava envolvida no programa e, para tanto, fez uma busca sem chamada pública para suportar a resolução do desafio com a área.

É fundamental a empresa ter clareza de seus aprendizados e resultados após cada ciclo desenvolvido com as startups. A escolha dos modelos não é definitiva. Exige constante refinamento para buscar a melhor performance no relacionamento com as startups.

Como você pode perceber, não existe um único formato ou modelo de conexão com startups. Você não precisa ser uma multinacional global para acessar o que há de melhor em termos de soluções tecnológicas para seus problemas de negócios. Identifique o seu contexto e selecione o modelo mais adequado para sua realidade.

 

Quer saber qual modelo de conexão com startup é o mais adequado para o seu negócio?
A Innoscience oferece o Pré-Assessment, um teste para você conseguir identificar o seu contexto e a melhor maneira de potencializar o relacionamento com as startups.

 

Maximiliano Carlomagno, sócio fundador da Innoscience

Mariana Santana e Ana Leticia Rico, consultoras sênior da Innoscience

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