Frequentemente tenho sido questionado sobre como fomentar uma cultura inovadora. Há uma noção inicial de que as empresas que permitem às pessoas correrem riscos são as mais propícias à inovação. Minha visão sobre o tema é que há um conjunto de elementos organizacionais que impactam a criação de uma cultura de inovação, como estratégia, estrutura, processo e pessoas mobilizadas para tanto. Porém, o erro faz parte da cultura inovadora? Todo erro é positivo? Quando ele é positivo?
O erro faz parte do funcionamento de qualquer organização, seja empresa, hospital, igreja ou museu. Contudo, nos últimos 20 anos, o desafio da gestão tem sido exatamente o oposto: reduzir ao máximo o nível de erros. O método Six Sigma se notabilizou como uma das ferramentas destinadas a esse propósito.
Os diferentes tipos de erros
O início do entendimento de uma cultura de inovação passa pela compreensão de que existem diferentes tipos de erros e que nem todos estimulam a inovação. Pode‐se categorizá‐los em duas variações: os erros de gestão e os erros de descoberta.
O erro de gestão, de omissão, da falta de controle de atividades rotineiras e conhecidas não contribui com o processo de inovação. Pelo contrário: se a organização não estiver conseguindo “domar” sua operação é pouco provável que consiga tempo, recursos e legitimidade para tentar algo inovador.
Por outro lado, o erro de descoberta é aquele contido nas iniciativas que tratam de temas novos, desconhecidos e que não dispõem de parâmetros prévios. Esse é o tipo de erro que faz parte do processo de aprendizado.
O erro de gestão deve ser reduzido, reprimido e, por vezes, penalizado. Ele não contribui com a inovação porque se relaciona com a operação do dia a dia, que requer previsibilidade e controle. O erro de gestão é não intencional, mas produto da disfunção de algum dos componentes do negócio.
Já o erro de descoberta está no coração do que denominamos experimentação, um processo estruturado de redução de incertezas para gestão dos projetos inovadores. Sabe‐se que em 95% dos projetos inovadores há uma mudança estrutural em relação à ideia que o originou. Dessa forma, a melhor maneira de acelerar a busca das melhores soluções é errar mais cedo, de forma controlada.
Nesse sentido, o erro de descoberta é intencional. Quanto mais cedo o projeto errar, mais cedo ele gerará o aprendizado necessário para seu refinamento.
Nessas situações, o erro deve ser valorizado. Um dos casos emblemáticos dessa situação é o desenvolvimento do Viagra, que originalmente destinava‐se a problemas de cardíacos de hipertensão e angina, e acabou sendo um sucesso na área de disfunção erétil.
Ao juntar diferentes tipos de erros, os gestores perdem oportunidades de inovação ou abrem espaço para a deterioração operacional de suas empresas. Não permitir erros irá obstruir a capacidade de inovação do negócio.
Permitir qualquer tipo de erro comprometerá o estado atual e futuro da empresa. Assim, para se fomentar a cultura de inovação é preciso saber discernir os diferentes tipos de erro e tratá‐los da forma adequada.
Artigo publicado no Jornal Brasil Econômico, dia 29/04/2011