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Programas de contratação de startups: Um novo modelo de gestão de parcerias entre corporates e startups

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Título: Startup Supplier Programs: A New Model for Managing Corporate-Startup Partnerships

Programas de contratação de startups: Um novo modelo de gestão de parcerias entre corporates e startups

Onde foi publicado: California Management Review, 2020, Vol. 62(3) 64–85. Berkeley-Haas’s Premier Management Journal

Autores (são os criadores e executors da pesquisa): Kurpjuweit, Stefan, Dr. (ETH Zurich, Chair of Logistics Management). Wagner, Stephan, Prof. Dr. ((ETH Zurich, Chair of Logistics Management)

Contexto:

A relação entre corporates e startups se disseminou nos últimos anos por meio de programas de aceleração corporativa. Iniciativas com chamada pública, seleção, capacitação, mentoria e eventualmente aporte de capital para um conjunto de startups em troca de opção de participação no equity.

Nos últimos anos, contudo, os formatos de relacionamento entre corporates e startups se diversificaram. Um dos formatos mais frequentes atualmente é o de startup supplier programs (programas de contratação de startups) um modelo de programa de inovação aberta outside-in que tem como produto final a contratação de startups como fornecedoras de empresas estabelecidas.

O volume crescente dessa abordagem de inovação aberta ainda não fora adequadamente estudada cientificamente. O artigo publicado na California Management Review decodifica o funcionamento e benefícios desse tipo de iniciativa e as diferenças relevantes para os programas de aceleração corporativa.

Objetivo (explica o que os pesquisadores pretendem alcançar ao final da pesquisa):

Apresentar o startup supplier programs como um novo modelo de outside-in startup programs e oferecer orientações sobre como as organizações podem implementar e executar esse novo modelo.

Outside-in startup programs são Iniciativas nas quais grandes corporações se relacionam com um grupo de startups, por meio de relações contratuais e que normalmente não abrangem aquisição de participação acionária ou investimento. Como um novo modelo de outside-in startup programs, os programas de contratação de startups permitem às empresas obterem acessos a inovações que aumentem a competitividade dos produtos ou a melhoria dos processos.

Questão inicial: Por que as corporações precisam de um novo modelo?

Para os autores, ver as startups como fornecedoras potenciais constitui uma grande mudança de paradigma, uma vez que a prática e a literatura acadêmica tradicional ignoram o papel das startups como parceiras na cadeia de suprimentos. A partir desse novo ponto de vista, as empresas passariam a considerar as startups como suas parceiras de negócios.

Método (explica como a pesquisa foi realizada e quais dados foram utilizados):

O estudo é uma pesquisa exploratória, qualitativa, por meio da técnica do estudo de casos múltiplos. Foram selecionadas 3 empresas para o desenvolvimento deste estudo sendo: duas empresas do ramo de serviços de transporte ferroviário e uma empresa líder na fabricação de equipamentos automotivos. Todas as empresas são sediadas na Europa Ocidental e iniciaram seus programas de contratação de startups em 2015 tendo iniciado mais de 15 pilotos com startups por ano de análise feita.

A coleta de dados foi feita por meio de 12 (doze) entrevistas semiestruturadas: Das entrevistas realizadas, 8 (oito) foram conduzidas com os gerentes das empresas e outras 4 (quatro) com os representantes das startups participantes. Como forma de dar mais robustez ao estudo, foram coletadas informações em artigos de jornais, em comunicados à imprensa e nos sites das empresas. Os detalhes sobre as empresas pesquisadas podem ser encontrados no link para a versão original do estudo.

Resultados (apresenta os principais achados da pesquisa):

Comparando os startup supplier programs (programas de contratação de startups) com o corporate accelerators (programas de aceleração corporativa), os autores perceberam que:

  1. Ambas as abordagens parecem compartilhar de vários elementos importantes em comum, como, por exemplo, serem programas de curto prazo e ambas fornecerem membros da alta administração para atuarem nas startups durante todo o programa.
  2. Contudo, apesar das semelhanças, foram identificadas diferenças entre esses dois tipos de outside-in startup programs,como por exemplo, no escopo estratégico, no conteúdo do programa e nos recursos fornecidos. O Quadro abaixo resume os apontamentos trazidos pelos autores.

Quadro 1. Principais diferenças entre startup supplier programs e corporate accelerators (CA)

CategoriaRecursosCorporate AcceleratorsStartup Supplier Programs
Escopo EstratégicoObjetivo do programaPerseguir objetivos múltiplos, como atrair talentos, explorar ideias, preencher lacunas tecnológicas e rejuvenescer a cultura corporativaSelecione, integre e desenvolva startups como fornecedores para integrar inovações empreendedoras ao core business da empresa
Escopo EstratégicoProposta de valor para startupMúltiplos: ajuda a estabelecer um negócio, desenvolver um modelo de negócio, financiamento, acesso a recursos corporativos e mentoriaTornar-se um fornecedor oficial
Escopo EstratégicoEstágio da startupEstágio inicialEstágio intermediário
Conteúdo do programaFoco do projetoDesenvolvimento de um primeiro protótipoPersonalização da tecnologia da startup de acordo com requisitos específicos
Conteúdo do programaProcedimento de aplicaçãoNormalmente grupos e datas de aplicação agendadasContinuamente
Conteúdo do programaDuraçãoFixo, normalmente 3-6 mesesFlexível, normalmente de 1 a 6 meses
Conteúdo do programaConfiguração organizacionalInterno, em cooperação com outras empresas estabelecidas ou em conjunto com um provedor profissionalInterno
Conteúdo do programaNúmero de startupsLimitada pelo número de gerentes de relacionamentoIlimitado, pois o contato principal é da unidade de negócios
Conteúdo do programaContato principalGerente de inovação da aceleradora corporativaGerente do core business, os gerentes de inovação apoiam a colaboração
Conteúdo do programaFim do programaDia de demonstração com um argumento de venda para os venture capital funds, business angels, a mídia e executivos corporativosPitch para os tomadores de decisão das unidades de negócios
Recursos FornecidosFinanceiroQuantidade fixa de dinheiro, muitas vezes na forma de investimentos de capital em troca de equityPagamento flexível que é contabilizado como receita
Recursos FornecidosEducaçãoRelacionado a startups (startup enxuta, financiamento, treinamento de argumento de venda, fundamentos jurídicos)Relacionado a empresa (especificidades da indústria, processo de compra)
Recursos FornecidosNetworkingInternamente na empresa e externamente com ex-participantes, empresários e investidoresTomadores de decisão em unidades de negócios da empresa; gerentes de funções relevantes (compras, gestor de suprimentos e jurídico) e fornecedores estabelecidos selecionados
Recursos FornecidosRelacionado ao produtoInstalações de prototipagem, espaço de co-workingInstalações de teste e produção
Fonte: Elaborada pelos autores do artigo (2020)

Após a análise do modelo desenvolvido pelas empresas pesquisadas, os autores apresentam uma visão sobre como as organizações podem implementar e executar esse novo modelo. A Figura apresenta o processo de programas de contratação de startups em quatro estágios e três filtros.

 Figura 1. O processo startup supplier em estágios/filtros

Fonte: Elaborada pelos autores do artigo (2020)

Este estudo descreve um novo tipo de programa de startups no modelo outside-in que pode ajudar empresas estabelecidas a acessar inovações. As três empresas neste estudo desenvolveram o programa devido a insatisfação e baixas taxas de sucesso com outras iniciativas de relacionamento com startups. Os programas de contratação de startups podem oferecem às startups uma proposta de valor altamente atraente, pois ainda que nem toda startup precise de um investidor ou mentor corporativo, toda startup precisa de um cliente pagante.

Esse tipo de programa transmite exatamente essa mensagem e ajuda as empresas estabelecidas a se diferenciarem da concorrência ao acelerarem a adoção de novas tecnologias.

Implicações Práticas (como isso pode ajudar quem está no dia a dia das empresas):

  1. Startup supplier programs não podem substituir modelos de engajamento e colaboração tradicionais, mas sim podem complementá-los, integrá-los e reforçá-los.
  2. Engajar o setor de compras das empresas a esse novo cenário.
  3. Startup supplier programs melhoram a visibilidade da empresa junto ao ecossistemas de startups.

Diferencial (o que a pesquisa tem de novo em relação a outros estudos):

Colaborações entre empresas estabelecidas e startups são cada vez mais consideradas um ingrediente da estratégia de inovação corporativa.

Essa pesquisa descreve um modelo de colaboração que surgiu da prática.

Apresenta um modelo que complementa o engajamento predominantemente usado até recentemente por meio de corporate accelerators (CA) e  corporate venture capital (CVC).

Por fim,apesar do modelo startup supplier programs ser bastante aplicado no mercado atualmente, ele é pouco estudado cientificamente.  Nesse sentido, entende-se a impôrtancia e a relevância deste artigo para o cenário acadêmico e organizacional.

Sugestão de leitura – Artigos complementares (conteúdo para quem quer saber mais):

  • Wagner, S. M. (2021). Startups in the supply chain ecosystem: an organizing framework and research opportunities. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management.
  • Steiber, A., Alange, S., & Corvello, V. (2021). Evaluating Corporate-Startup Co-Creation: A Critical Review of the Literature. International Journal of Innovation Management, 2150073.
  • Heinzelmann, N., Selig, C. J., & Baltes, G. H. (2020). Critical Actions of and Synergies between Corporate Entrepreneurship Programs. In 2020 IEEE International Conference on Engineering, Technology and Innovation (ICE/ITMC) (pp. 1-9). IEEE.
  • Moschner, S. L., Fink, A. A., Kurpjuweit, S., Wagner, S. M., & Herstatt, C. (2019). Toward a better understanding of corporate accelerator models. Business Horizons62(5), 637-647.

Link: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0008125620914995

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