A série de publicações Science4Inno é um reconhecimento da Innoscience à boa pesquisa praticada em todo o mundo sobre inovação corporativa. Através da leitura e resumo de artigos relevantes, nosso time traz aos leitores as pesquisas mais importantes publicadas recentemente, sempre recomendando a leitura do texto original.
Resumo por Luciana Alves Madeira, Analista Senior na Innoscience
Título: Aceleradora corporativa: um novo tipo de mecanismo de acesso a recursos estratégicos
Onde foi publicado: AIMS – Association Internationale Management Stratégique, 2021
Autores (são os criadores e executores da pesquisa):
Fernanda Arreola, PhD. Pesquisadora, Professora, Consultora em inovação e Reitora da Faculdade e Pesquisa do ISC Paris.
Véronique Favre-Bonté, PhD. Professora de gestão internacional e de inovação na Universidade Savoie Mont Blanc (França) e Investigadora do instituto IREGE focada em empreendedorismo internacional.
Sébastien Tran. Diretor Geral do Pôle Universitaire Léonard de Vinci.
Objetivo (explica o que os pesquisadores pretendem alcançar ao final da pesquisa):
Os autores querem, através deste artigo, testar algumas suposições sobre a aceleradora corporativa, como a possibilidade de ser um apoio estratégico, fomento à inovação e difusão da cultura empreendedora nos colaboradores, trazendo assim recursos estratégicos para a companhia e um espírito de startup para uma corporação já consolidada.
A pesquisa pretende responder a seguinte pergunta: quais são as especificidades das aceleradoras corporativas e os mecanismos pelos quais as corporações podem captar recursos estratégicos das startups?
Método (explica como a pesquisa foi realizada e quais dados foram utilizados):
A amostra de dados consistiu em estudar 6 aceleradoras corporativas, levando em consideração quatro critérios: aceleradoras com mais de um ano de existência, atividades constantes com pelo menos um colaborador em tempo integral de dedicação para o programa, localização em Paris (França) e forte ligação entre aceleradora e corporação. Foram entrevistados os executivo das aceleradoras corporativas. No total, foram feitas 43 entrevistas semi-estruturadas (6 heads de aceleradoras corporativas, 24 executivos de 6 corporações e 13 fundadores de startups).
As perguntas para as corporações foram divididas em 3 frentes: o motivo de a corporação lançar uma aceleradora, a conexão entre aceleradora e corporação (e os tipos de recursos absorvidos pela aceleradora) e por último o modo com que a corporação captura estes recursos.
As perguntas para as startups também tiveram 3 frentes: os motivos para ingressarem em um programa de aceleração, o modo com que elas colaboram nas unidades de negócio da corporação e as habilidades que elas se beneficiam.
Resultados (apresenta os principais achados da pesquisa e sua comparação com as hipóteses):
Após um cruzamento de dados e agrupamento de palavras e frases que representavam ser de grupos similares, os autores fizeram descobertas em 3 grandes frentes.
Aceleradora Corporativa como fonte de reputação
A primeira descoberta foi a aceleradora como fonte de brand equity e aprimoramento na reputação. Este tipo de programa é visto pelo mercado como um sinal positivo de abertura e modernidade, melhorando a atratividade de clientes e outros parceiros para a corporação.
A pesquisa aborda o caso do banco europeu BNP e sua aceleradora WAI: ganhou reputação pela sólida ajuda que deu às startups e agora está em plena capacidade com listas de espera de novas startups que desejam ingressar.
Aceleradora Corporativa como fonte de desenvolvimento organizacional
A segunda descoberta foi a aceleradora como uma fonte de desenvolvimento do capital humano que leva a novos métodos de gestão. Através destes programas, a corporação adquire habilidade de atrair, recrutar e acessar novas pessoas e novas competências. Estes novos talentos conseguem identificar o aprimoramento da dinâmica organizacional.
A pesquisa ilustra o exemplo da Capgemini, empresa francesa do setor bancário. Todos os anos, a aceleradora da empresa atrai e recebe mais de 1.000 alunos (jovens franceses recém graduados). Eles são avaliados e, os que têm maior potencial, são recrutados. Na maioria das vezes, são inseridos no trabalho em conjunto com uma startup para adquirirem esta cultura de inovação. A diversidade de perfis que esses novos recrutados oferecem também permite que as corporações importem novas habilidades e diferentes atitudes gerenciais.
Aceleradora Corporativa como fonte de inovação
A última grande frente de descoberta foi a aceleradora como meio de combinar recursos que levem à inovação. Uma das formas é absorvendo a inovação da startup através de sua aquisição. Um outro modo seria por meio de co-experimentação entre startups e corporações. Graças aos programas de aceleração, também é possível criar um ambiente com mais conhecimento de inovação, deixando os funcionários capazes de detectar novas oportunidades e escanear ambientes externos para identificar tecnologias novas ou inexploradas.
Um exemplo analisado é o Start’inPost da empresa do ramo logístico La Poste. O Start’inPost é um espaço físico de inovação que também serve como incubadora e aceleradora de startups que foi desenvolvido pela própria La Poste. São levadas para dentro da aceleradora as ideias que surgem internamente na corporação. A aceleração da startup com a solução compatível com a ideia interna recebe um investimento de até 20 mil euros para testarem colaborativamente novas ofertas dentro de uma unidade de negócio. Deste modo atinge-se dois objetivos simultaneamente: primeiro, criar inovação em novos campos onde a corporação tem poucas competências e, segundo, desenvolver uma abordagem de teste de campo em ambientes reais. Dois casos que utilizaram este recurso foram na identificação de novos serviços para clientes individuais na faixa etária em torno de 60 anos e também alternativas para conexão de entregas para compensar a queda na receita de seu negócio principal tradicional (entregas postais).
Implicações Práticas (como isso pode ajudar quem está no dia a dia das empresas):
A pesquisa evidencia que as corporações aprenderam com o dinamismo das startups e atuam como testadores de soluções inovadoras. O estudo apresenta 3 etapas fundamentais para uma companhia que deseja desenvolver uma aceleradora corporativa.
A primeira etapa de uma aceleradora é gerar uma boa imagem interna e externamente entre os stakeholders através da criação de espaços que promovam trocas e compartilhamentos de atividades empreendedoras da corporação. O programa deve ter uma identidade própria, sendo atrativa para recrutamento de especialistas de gerações mais jovens e também para retenção de colaboradores com características empreendedoras. Geralmente as pessoas envolvidas nas atividades da aceleradora são de natureza mais diversificada pois vai além do cargo que elas exercem.
A segunda etapa é quando a colaboração e a diversificação das atividades realizadas pelas startups levam à adoção de novas práticas de gestão que facilitam a integração de novo capital humano (principalmente conhecimento) por meio de um novo conjunto de práticas gerenciais. Por intermédio de aceleradoras, as empresas podem ter equipes de colaboradores que testam algumas dessas práticas de gestão e trabalho e, ao mesmo tempo, aprendem novos conceitos, ferramentas e operações.
A terceira fase é a da interação. A co-produção é extremamente interessante, pois, além de contemplar inovação aberta e colaboração, os autores constataram que as aceleradoras corporativas incitam as startups não apenas a revender produtos existentes ou a disponibilizá-los ao seu pessoal, mas também para gerar conjuntamente novas soluções comerciais, protótipos e provas de conceito para clientes internos e externos.
Este estudo traz vários pontos importantes para os praticantes:
Os autores destacam 4 fatores importantes e vantajosos de um programa de aceleração.
O primeiro deles é a capacidade de reduzir os custos de transação e os riscos associados à incerteza a respeito da produção de valor dos novos recursos, já que eles são avaliados e testados antes de qualquer grande tomada de decisão. Isso pode ser entendido como uma vantagem informacional.
O segundo fator seria o entendimento de que os recursos não são adquiridos. Eles são “alugados”, “testados” ou “absorvidos” temporariamente, tempo no qual a corporação mantém a possibilidade de interagir e gerar novas oportunidades de negócios por meio dessa parceria.
O terceiro fator é a incorporação da agilidade das startups dentro da companhia através da qual se ganha vantagens operacionais e culturais.
O último fator explicado foi a capacidade de se ter novas formas de colaborar no desenvolvimento de novos produtos ou serviços. Isto pode potencialmente desenvolver inspiração para grandes líderes melhorarem seus métodos de gestão e até mesmo implementar inovações gerenciais.
Artigo Original (conteúdo completo para quem quer conhecer a pesquisa em sua totalidade):