Dando sequência à Série Startups Corporativas, com cases reais de empresas que incubaram startups elas próprias, hoje é a vez de falarmos da Cashme, uma startup criada dentro da Cyrela. Vamos analisar como foi o processo desde a concepção da ideia até os resultados que ele trouxe para a empresa. Uma história com muitos aprendizados. Então, confira os detalhes!
2º Case: startup Cashme dentro da Cyrela
Muitas vezes, a inovação representada pela implantação de uma startup dentro de uma companhia começa pela necessidade, ou seja, por uma crise que obriga a pensar em novas soluções para um problema ou um resultado ruim. Foi exatamente isso que aconteceu com a Cyrela ao decidir implantar a Cashme.
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COMO SURGIU A CASHME DENTRO DA CYRELA:
A Cyrela atua no ramo da construção, com foco em empreendimentos de luxo, há 58 anos. Mas, em 2014, Efraim e Raphael Horn, filhos de Elie Horn, fundador da Cyrela, substituíram o pai no comando da incorporadora, enquanto Elie ficou no conselho de administração.
Naquele período, assim como todo o setor imobiliário, a Cyrela sofria com os efeitos de uma crise devastadora. Para se ter uma ideia, dos 74 lançamentos e de um Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 6,64 bilhões, em 2013, a companhia passou para 37 empreendimentos lançados e um VGV de R$ 2,89 bilhões, em 2015.
Portanto, este cenário poderia ser visto como catastrófico se não fosse por uma oportunidade identificada naquele momento. Assim, diante da crise, a Cyrela vivia o desafio de atender a demanda de seus próprios clientes e parceiros frente à falta de crédito no mercado causada pela quebra do Lehmann Brothers, em 2008. Surgia então, uma grande oportunidade.
Essa escassez de crédito prejudicou muitos parceiros que haviam tido um importante papel no crescimento da Cyrela nos anos anteriores. A empresa havia chegado ao primeiro IPO do setor de construção civil em 2005, atingindo em 2007 R$ 5,4 bilhões em lançamentos, dos quais R$ 1,9 bilhão gerado por parceiros.
Foi então que, em 2017, Paulo Gonçalves e Juliano Bello, executivos com anos de experiência na companhia, criaram a CashMe dentro da Cyrela, dando início a uma nova história, marcada pela inovação, a qual a incorporadora vem construindo até hoje.
COMO FOI O DESAFIO DE IMPLANTAR UMA STARTUP:
O processo de implantação da Cashme foi diferente do que costuma ser a criação de startups do zero. Portanto, as etapas marcadas por rodadas de testes e validações de MVP até se chegar a uma proposta de valor com fit de mercado foram encurtadas. Isso porque a Cyrela já tinha know-how adquirido dentro de casa para embasar a criação da Cashme mais rapidamente.
A Cashme nasceu com a necessidade de, diante da falta de crédito imposta pela crise da época, ter a sua própria estrutura de funding com garantia em imóvel para auxiliar os parceiros. Dessa forma, a Cyrela conseguiu passar por aquele período mantendo o ritmo após a crise. Em 2009, a Cyrela aumentou sua receita em 43,6%, chegando a R$ 4 bilhões, e ampliou seu lucro bruto em 30,2%, fechando em R$ 1,4 bilhão. Dos R$ 5,2 bilhões em unidades vendidas em 2009, os parceiros foram responsáveis por R$ 1,15 bilhão.
O processo de desenvolvimento de funding interno para parceiros foi sendo aprimorado ao longo das outras crises que o setor de construção enfrentou desde então. Após o resultado positivo na oferta de crédito com garantia de imóvel para os parceiros, a Cyrela passou a diversificar, testando a oferta de crédito para não parceiros e operando na compra de carteira de recebíveis de outras empresas do setor de construção civil.
QUAIS FORAM OS RESULTADOS:
Hoje, a CashMe continua sendo uma subsidiária da Cyrela, mas vem ganhando força com sede própria, mais de 90 colaboradores e novos ramos de negócios. A startup foi o estopim que estimulou uma série de novas soluções dentro da empresa, inclusive, de novas startups internas.
Nessa mesma linha, a mentalidade startup trouxe agilidade no desenvolvimento de produtos. Isto permitiu testar e validar hipóteses de forma rápida e com segurança. Além disso, a CashMe desenvolve o seu próprio ecossistema, com pelo menos 30 startups plugadas à sua tecnologia por meio de APIs.
O grande diferencial da Cashme é a experiência do Grupo Cyrela somada ao conhecimento do mercado imobiliário, permitindo que a empresa faça avaliações assertivas dos imóveis usados como garantia e seja rápida na resposta ao cliente, em até 48 horas. Até hoje, a fintech originou mais de R$ 1 bilhão em empréstimos. Outro diferencial é sua origem disruptiva. Isso gera agilidade ao negócio e sua integração de assinatura eletrônica junto aos cartórios permite uma aprovação de crédito ágil. O modelo de atuação da Cashme é 100% digital.
Além do crédito para condomínios, a CashMe também opera nos segmentos de home equity tradicional, crédito para aquisição de imóveis, crédito às incorporadoras com garantia de estoque e capital de giro para empresas de todos os segmentos.
Mas o fato é que a Cyrela não parou na Cashme.
Em 2017 a Cyrela se junta a Brazil brokers, Tigre, ZAP e Duratex e cria o MIT Hub, um hub de inovação voltado para construtechs. Ele oferece um programa de aceleração e conexão das startups com as empresas participantes do hub. Também mantém um coworking na Vila Olímpia, em São Paulo, para as startups da comunidade.
“No MIT Hub a Cyrela pegou gosto de trabalhar com startups”, diz Juliano. Há dois anos e meio, aquilo que era uma solução emergencial para suportar o crescimento da empresa em momentos de crise se tornou um novo negócio. E há um ano e meio, Juliano e outros profissionais saíram da Cyrela para se dedicarem integralmente à CashMe.
“Essa orientação, que começou a ganhar fôlego em 2014, faz parte de um esforço mais amplo da incorporadora, que inclui ainda questões como a aproximação com o ecossistema de inovação.”
“Estamos com um apetite muito grande pelo novo e para ocupar mais espaços dentro da nossa cadeia”, diz Guilherme Sawaya, diretor de transformação digital da Cyrela. “Podemos ter um portfólio mais abrangente para acompanhar as transformações do mercado. E, ao mesmo tempo, blindar a Cyrela contra as oscilações da economia.”
A nova diretoria reúne diversos projetos que foram desenvolvidos desde 2016. A estratégia teve início com a substituição de fornecedores tradicionais pelos novos modelos propostos pelas startups. De lá para cá, foram mais de 70 contratos assinados com empresas como QuintoAndar, Nuveo e Homelend.
Com o passar do tempo, esses contatos com o ecossistema de startups estimularam a estruturação de outras frentes, como o incentivo à adoção de uma cultura de inovação na companhia e a criação de novos negócios.
Novos desafios:
O desafio hoje é construir uma avaliação de crédito que considere a dinâmica da pandemia. Um exemplo citado por Juliano é o lojista de shopping, que teve queda de faturamento, mas pode retomar à medida em que a atividade nos shoppings retoma. Situação oposta é a de quem explodiu de vendas na pandemia oferecendo produtos e serviços que perderão demanda à medida em que o cenário muda. A Cash.me está aprendendo como diferenciar os dois casos e entender o cenário de longo prazo de cada negócio.
Novos produtos:
A CashMe lançou, recentemente, uma modalidade de crédito para condomínios. A solução permite que o condomínio escolha de forma inteligente o melhor uso do recurso, como por exemplo, renovação do ambiente (pintura do prédio, reforma estrutural ou da fachada, melhorias nas áreas de lazer), modernização (adaptação para portaria digital, upgrade nos elevadores, instalação de painel solar), entre outras necessidades.
“A chegada do CashMe Condo reforça a nossa estratégia de unir tecnologia e solução para desenvolver novos produtos em um perfil de mercado que nos traz muitas oportunidades para desenvolvimento”, destaca Juliano.
Em 2007, a Cyrela criou o MIT Hub, com o objetivo de impulsionar o ecossistema de startups ligadas ao setor imobiliário. Fruto de uma parceria com empresas como Brasil Brokers, ZAP, Tigre e Duratex, o MIT Hub reúne atualmente 19 startups. Essas companhias recebem mentorias e têm acesso a conexões com representantes do segmento. Com o crescimento do projeto, a Cyrela e seus sócios querem ampliar o espaço, que hoje funciona em uma estrutura da incorporadora, em São Paulo.
Startup Mude.me
Outra startup interna criada pela Cyrela é a Mude.me, desenvolvida por Sawaya. O site é uma plataforma que ajuda a organizar festas de casamento, trazendo como vantagem a possibilidade de o casal trocar as conhecidas listas de presentes pela arrecadação de recursos para dar entrada em um imóvel próprio.
Os caminhos da inovação na Cyrela somam o mapeamento de iniciativas internas e as oportunidades de mercado. Através de comitês, a companhia avalia se determinada frente é uma oportunidade de negócio e se é mais viável desenvolvê-la dentro de casa ou através de parcerias.
Negócios que vão além de startups
Outro investimento da Cyrela foi em um marketplace com 3 mil prestadores de serviços de reparos domésticos na sua base. Presente em São Paulo e em Porto Alegre, a plataforma conta com mais de 20 mil usuários ativos.
E quem pensa que os novos negócios da Cyrela se limitam às startups se engana. O grupo anunciou, há poucos meses, uma joint venture com a Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB) para explorar o segmento de locação residencial com foco em imóveis de média e alta renda, em São Paulo. Na operação, a empresa detém uma fatia de 20%.
“As pessoas vão seguir morando, vamos precisar continuar a comprar bons terrenos e desenhar bons prédios”, lembra Sawaya. Ele ressalta que o que vai mudar é a relação que os clientes terão com os imóveis. Essa tendência é expressa, por exemplo, em novas propostas de mercado, como a Housi, plataforma de moradia sob demanda da Vitacon.
Em 2019, a Cyrela alcançou um VGV de R$ 6,7 bilhões, o que representou um crescimento de 34,9% sobre 2018. No ano, as vendas totalizaram R$ 6,5 bilhões, alta de 30,1%.
O desempenho foi divulgado pelo relatório do BTG Pactual, que evidenciou os indicadores “robustos” e a visão positiva sobre a empresa. “Nós acreditamos que a Cyrela continue ganhando força”, escreveram os analistas Gustavo Cambauva e Elvis Credendio, que continuaram a recomendar a compra das ações da companhia, mesmo sob o forte desempenho recente dos papéis.
Enfim, nos últimos 12 meses, as ações da Cyrela quase dobraram de valor e avançaram 96%. Cotadas a R$ 34,03, elas estão em patamar recorde. O valor de mercado chegou a R$ 13 bilhões.
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