por Sérgio Gualdi Ferreira da Silva Filho
Sócio da Innoscience
“A cultura come a estratégia no café da manhã!”
Esta famosa frase do Peter Drucker se conecta diretamente com uma de minhas reflexões sobre o que limita uma iniciativa de intraempreendedorismo. Há alguns anos venho estudando e observando os impactos da inovação no contexto organizacional, o que somente é possível pela minha atuação em projetos de consultoria de inovação, e percebi que inúmeras empresas têm dificuldades para estruturar e rodar programas de intraempreendedorismo, achando que o processo, uma vez implementado, irá garantir resultados sistemáticos. Ledo engano! O processo é realizado por pessoas, sejam elas integrantes do time de inovação, colaboradores participantes dos projetos ou mesmo de áreas de apoio com papel específico de suporte na execução e, se elas não estiverem verdadeiramente engajadas, o fluxo de entregáveis será prejudicado. Além disso, devo destacar que o processo é apenas um elemento, que deriva da estratégia e cuja execução está ancorada em aspectos relacionados a governança, incentivos, funding, engajamento das lideranças e cultura organizacional. E, lembre-se, a cultura come a estratégia no café da manhã e almoça uma iniciativa de intraempreendedorismo.
A inovação vai muito além do estabelecimento de um processo específico, seja ele de conexão com startups, de aceleração, venture builder ou intraempreendedorismo, que é o alvo do meu texto. Em programas de intraempreendedorismo, especificamente, o elemento cultural é ainda mais importante e deve representar um grande alicerce, tendo em vista que os projetos de inovação são propostos e executados por colaboradores que precisam estar devidamente engajados.
A cultura de inovação deve impedir que se criem barreiras que prejudiquem a criatividade, a inventividade e o espírito inovador dos colaboradores. Tudo que os gestores devem fazer é permitir que as pessoas consigam desenvolver atividades vinculadas a inovação de forma minimamente equilibrada com as suas demandas core. Contudo, isso não é tarefa fácil, principalmente se considerarmos o mindset da grande maioria dos gestores. Todavia, existe um conjunto de princípios que podem ser colocados em prática para facilitar a criação de uma cultura de inovação e acelerar os resultados intraempreendedores:
1. Vontade compartilhada de ser inovador: todos, sem exceção, devem possuir a vontade de se tornar mais inovadores.
2. Estrutura de apoio: a alta gestão e as lideranças intermediárias devem evidenciar a importância da inovação para o sucesso da empresa e, além disso, deve haver uma equipe exclusivamente dedicada (full time) a coordenação das iniciativas inovadoras.
3. Inspirações constantes: as rotinas de trabalho devem proporcionar aos colaboradores experiências diferentes que gerem novos insights, mesmo que de forma induzida e alinhada a uma iniciativa específica.
4. Processo estabelecido: é fundamental que se desenvolva um processo exploratório que possibilite a geração sistemática de novos projetos de inovação. O processo deve contemplar desde a geração de ideias até sua efetiva implementação, momento no qual se obtém o resultado efetivo.
5. Tempo dedicado: inovação depende de ação e isso nos leva a estabelecer um percentual de tempo semanal para que as pessoas possam desenvolver novos projetos e apresentar os resultados.
6. Ambiente interno: o ambiente interno deve estimular a participação nas tomadas de decisão, a autonomia na realização das tarefas, a liberdade, a tolerância ao erro, a empatia e, principalmente, a colaboração entre as pessoas.
7. Comunicação direcionada: a informação precisa chegar nas pessoas pelos canais adequados e no timming correto. Comunicar sobre inovação, suas iniciativas e, sobretudo, sobre os resultados obtidos, evidencia e chancela a importância do tema.
Empresas que praticam estes princípios tendem a obter melhores resultados em iniciativas de intraempreendedorismo. A cultura direciona o comportamento e o comportamento adequado leva a melhores resultados. Independentemente do momento do negócio, dos objetivos de inovação almejados, da estrutura atual e do conjunto de iniciativas em andamento, a reflexão sobre como a empresa pode construir uma cultura mais inovadora utilizando os princípios acima tende a contribuir para que a inovação esteja mais próxima das pessoas e para que elas estejam mais engajadas nos desafios de inovação.
Até a próxima reflexão inovadora!
