Em nossas experiências de projetos de consultoria e treinamento em gestão da inovação nos deparamos com a necessidade de diferenciar projetos de inovação e projetos de melhoria. Nos últimos anos, um contingente importante de trabalhadores e executivos de grandes empresas foram capacitados em gestão de projetos. Definir escopo. Identificar potenciais riscos. Mapear stakeholders. Estabelecer cronogramas. Dividir tarefas. Evitar erros.
As mudanças de ruptura do ambiente competitivo atual exigem novas competências das empresas e de seus profissionais. Agilidade, inovação e experimentação. Mentalidades e ferramentas necessárias para dominar a gestão de projetos inovadores.
Nem todos estão habilitados para a gestão da inovação
Obviamente que qualquer empresa pode querer inovar mas o atingimento dosacionais,r meioados e disseminados pelo movimento da qualidade total nos anos 80.há uma hierarquia de gestão que precisa ser considerada para que a empresa aumente suas chances de inovar.
Estabilizar a Rotina
O primeiro estágio do desafio de qualquer gestor é estabilizar sua rotina. Se você não tem a rotina controlada será difícil conseguir melhora-la e mais ainda inovar. A gestão da rotina tem uma série de ferramentas e modelos criados e disseminados pelo movimento da qualidade total nos anos 80 mas ainda há empresas e gestores que precisam vencer esse desafio antes de dedicarem atenção para inovar.
Melhorar a Operação
A segunda desafio do gestor é melhorar continuamente aquilo que ele se predispõe a fazer. No RH, Finanças, Operações, Marketing, sempre existe a possibilidade de obter mais produtividade a partir de melhorias incrementais. As melhorias são realizadas por meio de projetos operacionais. Um exemplo concreto é o de um trabalhador que realiza um ajuste na linha de montagem de um produto que economiza tempo e reduz desperdício.
Gerir Estrategicamente
Além dos projetos de melhoria apresentam-se desafios estratégicos que a empresa periodicamente estabelece por meio de um processo estruturado ou informal de planejamento. Projetos que tratam de garantir o atingimento dos objetivos de longo prazo da organização. Normalmente, são iniciativas transversais que envolvem mais de uma área da empresa, apresentam maior complexidade e tendem a gerar bons resultados quando bem executados. Uma grande empresa de siderurgia, por exemplo, implementando um novo software de gestão empresarial, os chamados ERP’s ou uma varejista de bens de consumo determinando sua entrada num novo mercado dominado por seu principal concorrente.
Dominar a Inovação
Há um tipo ainda mais especifico de projetos. Os projetos de potencial inovador. Iniciativas com alta incerteza que prometem enorme retorno. São ações de maior risco em função de seu grau ruptura com a realidade existente dado que lidam com desafios inéditos. Uma varejista testando um novo canal de distribuição totalmente distinto daquele utilizado por todo seu setor. Uma categoria de produto nova para o mercado. Um processo interno absolutamente novo.
À medida que as empresas optam por tentar, proativa e deliberadamente, inovar surgem questionamentos sobre a adequação das premissas originais de gestão da rotina e de projetos de melhoria ao contexto da inovação. Mas qual a grande distinção entre tais iniciativas? O que difere os projetos operacionais dos projetos de inovação?
Snowboard, Surf e Gestão de Projetos Inovadores
Para diferenciar tais circunstâncias gostaria de compartilhar a diferença da prática de dois esportes aparentemente similares. Como muitos jovens dos anos 80 e 90 fui sensibilizado pelo Surf. Tinha primos e amigos que surfavam e me identifiquei com a cultura e lifestyle do esporte. Passei a viajar para encontrar as melhores ondas no Peru, Chile, Fernando de Noronha, Santa Catarina e Uruguai. O tempo passou e a idade começou a “pegar”. O surf foi ficando mais desafiador. O preparo físico. O “rip do surf” como definem os surfistas foi sendo perdido. Ainda surfo em algumas oportunidades como lazer mas são cada vez menos frequentes.
No entanto, nos últimos 10 anos, parte desse mesmo grupo começou a se juntar para praticar outro esporte com prancha. O snowboard. Neve. Frio. Condições climáticas por vezes hostis. Já fomos a Las Lenas, Valle Nevado, Bariloche, Chapelco entre outros “picos de snow”.
Comparando essas duas experiências aprendi sobre inovação.
O Surf é inovação pura. O Snowboard é melhoria. Ainda que ambos sejam esportes com prancha, a prática dos mesmos difere sobremaneira.
No Snowboard as condições de pista, o que representa na empresa as condições internas e de mercado tem maior estabilidade. Alguém poderá argumentar que o tempo muda, começa a nevar, abre o sol, melhora a visibilidade, ou seja, as condições mudam. Agora pense no Surf.
Numa mesma manhã de Surf as ondas mudam de forma muito significativa até nas mais perfeitas como Pipeline. Até ai há similaridade com a pratica do Snowboard. Seria a gestão de projetos operacionais igual a gestão de projetos inovadores?
No Snowboard uma descida pode ser muito similar a outra. Você pode inclusive percorrer o mesmo caminho para exercitar uma dada manobra. Você pode optar por ir sempre pelo lado esquerdo da pista ou por tentar melhorar determinado movimento.
No Surf a coisa é diferente. Nunca há duas ondas iguais.
Durante uma onda pode haver mudanças abruptas. Você começa a remar para a onda com uma idéia em mente. Quando a onda se aproxima há que mudar de direção e preparar uma nova entrada. Quando entra na onda, ou seja, o que no Snowboard seria começar a descer a montanha, ainda há a possibilidade de novas mudanças. Você levanta na prancha, realiza uma primeira manobra e prepara-se para aquele tubo, inesquecível. Nesse momento, numa fração de segundos, a onda muda completamente. O tubo se transforma numa “vaca” e se o surfista não mudar completamente sua idéia ou execução, corre o risco de ser arremessado para o fundo do mar.
É por ai… o Surf e o Snow, assim como a gestão de projetos de melhoria e inovação, tem enormes diferenças mesmo que existam similaridades. Definitivamente, copiar as práticas de um contexto para o outro não apresenta garantia de resultados. Quando o contexto é instável e imprevisível a mentalidade, práticas e ferramentas precisam ser distintas.
Depois de ter dominado a gestão de projetos em condições de estabilidade é hora de aprofundarmos o entendimento de como obter os melhores retornos com os projetos de inovação. São eles que garantirão vantagem competitiva e liderança para nossas empresas.
Compreender a essência das diferenças e o estágio de evolução das empresas entre a gestão da rotina e da inovação pode ser decisivo para a próxima onda.