A Gerente de Inovação Aberta na Ajinomoto, Juliana Okuda, passou por um grande impacto na carreira ao migrar do New Business de Moda em uma empresa nacional para Inovação em Alimentos em uma multinacional japonesa.
“Ali foi uma diferença gigante de cultura, tamanho de negócio, e até os processos utilizados. Por conta dessa mudança acabei fazendo a pós graduação em Inovação.”
Como você iniciou sua carreira profissional? Como suas experiências profissionais influenciaram sua trajetória?
Sou Designer, da escola clássica de Desenho Industrial, e posteriormente acabei me especializando nas derivações do Design, como UX, Design Thinking, e depois disso fiz pós graduação em Design Estratégico e Inovação. Iniciei minha carreira ajudando a minha família a começar do zero uma empresa de Design de Embalagens, o que me deu uma base sólida não só na funcionalidade e estética do design como no entendimento de um negócio como um todo, desde lavar banheiro até fazer uma venda para grandes clientes.
Essa experiência me inspirou a abrir uma empresa de Design de Estandes, onde aprendi a lidar com o mercado e a entender as necessidades dos clientes. Trabalhei em uma célula de inovação do Boticário, e em seguida parti para o mercado da moda, estudando tendências e novos negócios, o que ampliou minha visão sobre comportamento humano e novas oportunidades.
Todas essas experiências, somadas ao meu envolvimento com o grupo de teatro, moldaram minha abordagem centrada no ser humano, mais voltada a criação e colaboração. Essa trajetória me levou ao convite para abrir uma área de inovação na Ajinomoto, onde posso aplicar tudo o que aprendi, focando em transformar e inovar dentro de uma das maiores empresas do setor alimentício.
Qual foi o seu primeiro contato com a inovação? E o que fez você despertar esse interesse?
Meu primeiro contato foi no Boticário, muito focado em desenvolvimento de novos negócios, mas ali, a concepção do time já foi bastante inovadora. Na época, a consumidora da marca o Boticário começava na infância/adolescência (na época com marcas como Thaty e OPS!), mas só voltava a entrar na loja com seus 40 anos. Então lá pelo início dos anos 2000, a companhia decidiu contratar um time de jovens estagiários de diferentes áreas, orquestrados por uma gerente de marketing também jovem e de um segmento completamente diferente, para olhar para o Boticário, que naquela época ainda era o único negócio da companhia, e dizer como ele deveria ser para atender aos jovens de 20’s-30’s.
Foi uma jornada incrível pois tivemos toda a liberdade criativa para opinar, como profissionais e consumidores, em uma marca gigante e super reconhecida. Lembro que fizemos inclusive algumas vivências, como trabalhar por um dia em uma franquia na época do Natal, para poder opinar sobre atendimento.
Houve alguma transição de carreira que foi particularmente importante para o seu desenvolvimento na área de inovação?
Acredito que a migração de New Business (Moda) em uma empresa nacional para Inovação (Alimentos) em uma multinacional japonesa foi bem impactante pra mim. Ali foi uma diferença gigante de cultura, tamanho de negócio, e até os processos utilizados. Por conta dessa mudança acabei fazendo a pós graduação em Inovação.
Como você define a inovação?
Acredito que inovação seja fazer algo novo, seja um produto/serviço ou até mesmo um processo, enfim, que precisa gerar um valor claro e mensurável para pessoas.
Pode compartilhar uma experiência ou projeto marcante em sua carreira relacionado à inovação? Quais foram os principais desafios e aprendizados?
Acredito que nosso investimento (CVC) recente (2024) na foodtech Manioca foi e está sendo um grande aprendizado. Primeiro, porque foi o primeiro CVC do Grupo Ajinomoto que não foi tocado pela Ajinomoto Japão, mas também foi o primeiro investimento de uma grande empresa em uma foodtech amazônica, e trabalhar com Amazônia é lidar com superlativos. As distâncias, os impactos, os desafios são todos gigantes, mesmo falando de uma foodtech pequena.
Acredito que ter aberto esse processo de CVC, que não era um veículo oficial de inovação até então na ABR, para responder a uma hipótese de inovação, já foi algo impensável na época, e tentar uma nova forma de crescimento trouxe muitos aprendizados para o negócio, as regras são outras. Lembrando que estamos falando de uma empresa japonesa, uma cultura historicamente fechada, então lidar com uma outra cultura completamente diferente tem várias camadas de desafio.
Qual é o projeto de inovação do qual você sente mais orgulho? E como ele impactou a sua carreira e empresa?
Acho que continuo nesse exemplo da Manioca, o impacto foi alto pela ousadia dentro do Grupo e dentro da empresa. Para minha carreira, me fez ter uma ideia mais clara dos desafios que temos na Amazônia, nós aqui no Sudeste temos uma visão muito distante e às vezes até onírica da complexidade existente na floresta e até na parte amazônica urbana. Pude participar como painelista no Festival de Investimentos em Negócios Amazônicos no final de 2024 e me interessei demais por esse ecossistema vivo e dinâmico do Norte do país.
Qual a importância da colaboração multidisciplinar nos projetos de inovação em que você esteve envolvido?
Colaborar, buscar opiniões distintas, montar times multidisciplinares, discutir, divergir e convergir, é uma jornada de inovação que apesar de, na maioria das vezes ser muito prazerosa, visto que o ser humano é relacional, toma tempo e dá trabalho. Acredito que esse seja um mal moderno, a ansiedade social causada por tanto problema nesses tempos apocalípticos nos faz buscar respostas rápidas, portanto pouco pensadas e consequentemente simples para problemas complexos, gerando decisões míopes e unilaterais.