O artigo de hoje é sobre a parceria da Nestlé com a startup Boomera, que desenvolve pesquisas e tecnologias ligadas à logística reversa e à economia circular. A conexão é mais uma iniciativa da gigante de alimentos nas práticas ESG e demonstra o futuro do mercado. Confira!
BOOMERA E NESTLÉ
STARTUP
A Boomera surgiu da crença de que tudo pode ser reutilizado e também do desejo de evitar o desperdício e o descarte de produtos logo após o primeiro uso. A startup paulista nasceu em 2011, com o propósito de escalar um modelo de economia circular (conceito que repensa as práticas de extração, produção e descarte de materiais e prioriza a reciclagem e reinserção de produtos no ciclo econômico) em empresas de diferentes portes. Ela atua com pesquisa e desenvolvimento de produtos desenhados (para facilitar sua reciclagem depois da primeira vida), soluções para reciclagem, logística reversa e também na confecção de produtos em duas fábricas próprias.
Em 2016, a Boomera foi escolhida como a melhor empresa de impacto social pela revista Pequenas Empresas Grandes Negócios e Escola de Negócios Insper. Com atuação em todo o país, a startup já impacta 120 funcionários e mais de 200 parcerias com cooperativas, envolvendo cerca de 10 mil pessoas que coletam e vendem materiais para reciclagem. A empresa ajuda na estruturação dessas cooperativas com treinamento, fornecimento de itens de segurança individual, equipamentos, reforma de galpões e compra de material coletado, em especial o plástico.
Já são mais de 400 clientes interessados na startup, que ficou em 4º lugar no Ranking 100 Open Startups 2020 na categoria Clean Techs. O engenheiro de materiais e fundador da startup, Guilherme Brammer, projeta faturar entre R$ 100 milhões e R$ 120 milhões em 2022. Cerca de 80% dos resultados vêm da venda de resinas e de produtos com esse material, como lonas, caixas e paletes.
“Queremos ser um agente de mudanças de hábitos e mudar a cabeça do consumidor. Resíduo, para nós, é exponencial. O que parece impossível, para a gente não é. Surpreendemos com projetos que geram resultados econômicos, sociais e ambientais sem fronteiras e nem limites para tornar o inimaginável possível”, declara Gustavo Fonseca, gerente de desenvolvimento de novos negócios da empresa, em entrevista para o Sebrae.
EMPRESA
Líder mundial em alimentos, a Nestlé atua em 190 países e tem sede na cidade suíça de Vevey, onde foi fundada há mais de 150 anos, com o propósito de revelar o poder dos alimentos para melhorar a qualidade de vida de todos. O portfólio de produtos e serviços conta com mais de 2 mil marcas para todas as faixas etárias, perfis e necessidades de consumo, como Ninho, Leite Moça, Nescau, Nescafé, Nespresso, KitKat e Garoto. A empresa completa 100 anos no Brasil em 2021 e comemora a data renovando seu compromisso com a sociedade, como força mobilizadora que contribui para levar nutrição e bem-estar para bilhões de pessoas, criar um ambiente de inclusão e oportunidade para milhares de brasileiros e ser o produtor de alimentos mais sustentável do país. Para tanto, aposta na inovação aberta em diversas frentes, uma delas a partir do Panela Nestlé, programa de conexão com startups, executado em parceria com a Innoscience.
A Nestlé emprega mais de 30 mil pessoas no Brasil e tem 20 unidades industriais localizadas nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Goiás, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Espírito Santo, além de três centros de distribuição e mais de 50 brokers (responsáveis por vendas, promoções, merchandising, armazenamento e distribuição). Comprometida com boas práticas que vão do campo à mesa do consumidor, a companhia conta com milhares de produtores e fornecedores participando de programas de qualidade nas cadeias de cacau, café, leite e vegetais, que garantem uma produção sustentável e que traz modernidade ao campo, inclusive na cadeia orgânica. Além disso, mantém iniciativas nas fábricas, como minimizar a utilização de água e energia, reduzir emissões de gases, ações de reflorestamento e inovações contínuas em embalagens cada vez mais sustentáveis.
A companhia tem compromissos globais, como alcançar o impacto ambiental neutro nas operações até 2050 e tornar todas as suas embalagens recicláveis ou reutilizáveis até 2025. O caminho para isso já está sendo trilhado, todas as latas, hoje em dia, são feitas com 18% de aço reciclado e 95% das embalagens já estão prontas para a reciclagem ou reutilização. Segundo Mark Schneider, CEO da Nestlé, “o lixo plástico é um dos maiores problemas de sustentabilidade com que o mundo se depara atualmente. Isso só poderá ser enfrentado por uma abordagem coletiva. Estamos comprometidos em encontrar as melhores soluções para reduzir, reutilizar e reciclar. Nossa ambição é alcançar 100% de embalagens recicláveis ou reutilizáveis até 2025”.
OPORTUNIDADE
Além de ajudar empresas a cumprirem a Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, que responsabiliza os fabricantes pelo destino correto do lixo gerado por seus produtos, a Boomera oportuniza a melhora nas métricas ESG. Observando essas oportunidades, a Nestlé decidiu firmar a parceria com a startup. Desde 2016, a empresa vinha desenvolvendo o projeto para reciclagem e reaproveitamento das cápsulas NESCAFÉ Dolce Gusto e, com o match, a campanha foi ampliada. Através da metodologia CircularPack, iniciaram a coleta das cápsulas de café, somando 27 pontos de recolhimento por todo país – em destaque, lojas da rede Pão de Açúcar.
Ao lado da Boomera, a companhia realizou a reciclagem das cápsulas de café Dolce Gusto, produzidas em polipropileno, termoplástico totalmente reciclável, além do sistema de logística e coleta. Um dos produtos resultantes da reciclagem, que passou a ser vendido pela própria marca da Nestlé, é o porta-cápsulas Renove. Para produzi-lo com materiais 100% reciclados, as cápsulas descartadas pelos consumidores, nos pontos de coleta, passam por um processo de extrusão e são transformadas em uma resina plástica, que pode ser utilizada como matéria-prima para produção de diversos itens. “As cápsulas duram muito pouco, mas conseguimos transformá-las em um produto de vida mais longa, que serve, inclusive, de utensílio de decoração.” diz Guilherme Brammer, em entrevista ao Estadão.
Como incentivo, nas lojas Pão de Açúcar em Campinas, os “Cliente Mais”, selecionados pela frequência e volume de compras das cápsulas, foram presenteados com o Renove. Dentro do conceito de economia circular, o presente teve uma produção inicial de 5 mil unidades. O material obtido da reciclagem também foi transformado em tubetes para mudas de café, pensando no uso sustentável dos recursos e preservação do meio ambiente, desde a produção de matérias-primas e fabricação dos produtos até sua distribuição e consumo. A Nestlé desenvolve um extenso trabalho ao longo da cadeia, começando no campo. Por meio do programa NESCAFÉ Plan, a empresa busca fomentar o desenvolvimento de produtores locais para a adoção de um padrão de produção, atendendo especificações de sustentabilidade.
Segundo Brammer, a economia circular gera novos negócios e reduz custos, sem abrir mão da rentabilidade. Sendo uma mudança sistêmica, a sustentabilidade começa a influenciar nas finanças e nas decisões dos investidores nas grandes empresas. “E isso começa a chegar às filiais dessas empresas, no Brasil, de maneira muito forte, inclusive pela pressão da sociedade”, diz ele ao Estadão.
RESULTADOS
A conexão foi um sucesso e, hoje, integra uma série de iniciativas no Projeto RE, iniciado em 2019, que propõe repensar todas as operações da Nestlé, bem como envolver agentes e parceiros para a promoção de atitudes mais sustentáveis em todo o país. Entre as iniciativas propostas estão desde ações e projetos internos, em busca de maior eficiência operacional e de maior sustentabilidade na produção e nas embalagens, até ações de conscientização dos consumidores, em meios on e offline.
Como parte de seu compromisso de repensar todas as frentes para uma atuação mais sustentável, a Nestlé entende que, além de tornar suas embalagens recicláveis, há o desafio de ajudar a desenvolver e ampliar a cadeia de reciclagem do Brasil. Pensando nisso, a companhia buscou um parceiro que atua de forma responsável e ampla nessa frente para somar forças e, desde 2019, passou a apoiar o Cataki, empreendimento que conecta pessoas que precisam dar um correto destino aos seus resíduos a catadores e pontos de reciclagem mapeados na cidade. O objetivo com a parceria é cocriar ações de conscientização sobre a importância dos catadores para a reciclagem e contribuir para que esses agentes possam se desenvolver socialmente por meio de seu trabalho.
Assim, em 2020, a NESCAFÉ Dolce Gusto adicionou um novo formato de reciclagem de cápsulas que abrange 100% da cidade de São Paulo e região metropolitana. O consumidor que adquirir cápsulas via e-commerce da marca receberá uma sacola reciclável colorida para o descarte do material – após o acondicionamento das cápsulas usadas, basta dispensar para a coleta seletiva residencial. Se não houver coleta seletiva no endereço, o consumidor pode levar a sacola até um dos mais de 40 pontos de descarte das cápsulas. Outra opção é baixar o aplicativo Cataki (disponível para Android e iOs), em que um catador vai até a residência buscar os recicláveis. Apenas nos primeiros meses do projeto foram distribuídas 100 mil sacolas.
A ação teve início com 50 cooperativas que atuam na capital paulista e na Grande São Paulo, de forma a colaborar com a economia circular e solidária. As cooperativas de reciclagem são treinadas para identificar facilmente as sacolas coloridas da marca, separando as cápsulas para reciclagem. Hoje, o consumidor pode levar as cápsulas até os cerca de 40 pontos de coleta disponíveis no país. O material é recolhido por um operador de logística reversa e transformado em resina para ser comercializado na forma de produtos como porta-cápsulas, estojo, vaso, lixeira e outros materiais.
“Trata-se de um modelo amplo, fácil e acessível para a reciclagem de cápsulas. Convidamos a sociedade a repensar a forma como descarta suas cápsulas. Essa é uma jornada que traduz o compromisso da marca com o meio ambiente e com a conscientização quanto às responsabilidades de toda a cadeia com a reciclagem”, diz Tiago Buischi, gerente de marketing de NESCAFÉ Dolce Gusto.
Atualmente, além da logística reversa, a Boomera também faz a reciclagem dos sachês de Nescau em pó. A ideia é criar soluções para aumentar a reciclabilidade dos sachês, com o objetivo de gerar valor nesse mercado para um material que antes era desvalorizado. “Desde o início, somos levados a pensar que empresas, para terem sucesso, precisam vender cada vez mais produtos. Mas para os usuários, o que importa é a tecnologia e a experiência, e nós estamos fomentando essa mentalidade”, conta Brammer à PME Insights.
O sócio-fundador da Innoscience, Maximiliano Carlomagno, compartilha uma visão interessante sobre o tema. Segundo ele, “ESG é uma mudança de mentalidade de gestão que amplia possibilidades de processos internos, bem como de ofertas de produtos e serviços. Vai além de estar compliance com a legislação ambiental, social ou de governança”. E, isso, o caso da Nestlé com a Boomera ilustra de forma muito concreta.
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Até a próxima!
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FONTES:
www.boomera.com.br
www.nestle.com.br
www.nescafe-dolcegusto.com.br
www.estadao.com.br